Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, setembro 14, 2007

A sociedade dá aulas ao Senado



EDITORIAL
Jornal do Brasil
14/9/2007

O sargento Douglas Alves de Menezes é a alma boa com endereço certo: o cruzamento da Cardeal Arcoverde com a Tonelero, em Copacabana. Há 17 anos ostenta o apito, como um maestro empunha a batuta. Dita o tom do trânsito e da vida de 5 mil alunos das três colas da redondeza, dos adolescentes, dos transeuntes ocasionais, dos idosos. Entoa a alegria do comportamento perfeito, da vida sem negociatas, do exercício ético da profissão de policial militar. Tem orgulho do que faz: é um agente de trânsito.

Os soldados da Força Nacional estacionados no Rio de Janeiro não recebem as diárias desde os Jogos Pan-Americanos. O governo federal deve a cada um mais de R$ 6 mil. Tiram do bolso o dinheiro para se alimentar. Vivem longe da família, dos amigos, distantes da terra natal. Nem por isso deixaram de cumprir a missão. A cidade ganhou mais segurança com eles. Dignificam a corporação. Têm orgulho do que fazem: duelam cotidianamente contra a violência.

O presidente do Senado e do Congresso, senador Renan Calheiros, insiste em se manter no posto apesar de dividir as duas Casas que comanda. Não recebeu 40 votos favoráveis à sua inocência. Foram 39, descontado o dele próprio que, se tivesse um mínimo de semelhança com o sargento Douglas e os militares da Força, não teria apertado o painel eletrônico. Renan assegura que continuará sentado na cadeira de comando porque ninguém, como ele, tem condições de ocupar o lugar. Renan não dignifica o Senado. E o Senado ficou com a cara de Renan.

"Nós somos a bancada da abstenção", festejou a senadora Fátima Cleide, uma petista da Rondônia. Estava cercada pelos colegas Sibá Machado (o suplente que foi destronado, por manobra de Renan, da presidência do Conselho de Ética), pelo amazonense João Pedro e a raivosa catarinense Ideli Salvatti.

O grupelho dos poltrões inclui o senador de 10 milhões de votos Aloizio Mercadante. Outro que se revelou adepto da turma foi o folclórico - e agora, danoso - peemedebista Mão Santa. A covardia não se comemora. Os pusilânimes merecem o enterro político.

O Brasil da ética está em movimento. Pela pressão, mudou o comportamento de 35 senadores. Basta lembrar que, há 111 dias, todos os 81 parlamentares se perfilaram para cumprimentar Renan depois do seu primeiro discurso de defesa, logo após a denúncia de que teve contas pessoais pagas com dinheiro de um lobista de empreiteira. Depois da abominável absolvição da quarta-feira de cinzas do Senado, não houve beija-mão. O luto deu lugar à euforia.

Os três processos contra Renan já começaram a peregrinação pelo Conselho de Ética. A agonia do Senado não acabou. Nem a do governo, que agora terá no presidente que se esforçou para preservar, um problema a contornar para aprovar projetos como a prorrogação da CPMF.

O sargento Douglas e os soldados da FNS aliviam a decepção que os brasileiros acumulam, a cada dia, com os políticos. Mostram que no Brasil descarado do Congresso, ainda há quem sabe exercer a função pública com dignidade. Provam que os 40 de Renan, o voto dele incluído nesta conta, e os seis covardes da abstenção não representam a sociedade. O Brasil tem a cara de Douglas e se assemelha aos que vestem a farda camuflada da Força. Os senadores não entendem o país. Só resta aos brasileiros, que admiram os apitos de Douglas e a munição da paz dos soldados, reduzir esses políticos a pó nas urnas e lembrá-los apenas como personagens da História que envergonha a nação.

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