É preciso ir por partes. Em primeiro lugar, os setores mais envolvidos na concorrência global ganharam eficiência desde o começo dos anos 90. A maior parte da indústria mudou profundamente nesse período. As montadoras de automóveis deixaram de produzir carroças, passaram a fabricar veículos modernos e ficaram mais próximas dos padrões internacionais. A siderurgia, privatizada, livrou-se do excesso de peso da administração federal e conquistou novos mercados.
Os setores têxtil e de calçados sobreviveram aos primeiros choques da última década, modernizaram-se e continuam na batalha, apesar da concorrência chinesa e das barreiras enfrentadas nos principais mercados. A indústria de papel e celulose continua entre as mais competitivas do mundo e o sucesso internacional do agronegócio é bem conhecido.
Na indústria, na mineração e no agronegócio, portanto, houve transformações bem visíveis, ocasionadas principalmente pela abertura comercial e pelas privatizações. Não tem sentido, portanto, qualificar essas áreas da economia brasileira como menos produtivas do que eram em 1980.
Mas é preciso levar em conta outros dados. Boa parte da população empregada trabalha em setores ou subsetores de baixa produtividade, seja esta calculada fisicamente ou com base no valor agregado. O setor de serviços, no Brasil, tem algumas áreas modernas e eficientes, como a financeira, mas são ilhas de excelência. A expressão "economia de serviços", no caso brasileiro, designa uma realidade muito diferente da observada na Europa e nos Estados Unidos. Além disso, a atividade rural é heterogênea em termos tecnológicos.
Ao lado de unidades eficientes - grandes e pequenas -, voltadas para o mercado, subsistem propriedades exploradas por trabalhadores muito pobres e nem sempre capazes de produzir o suficiente para uma vida decente. A política agrária tem sido inepta para absorver a maior parte desses trabalhadores no mundo moderno - até porque a modernidade é geralmente abominada pelos executores dessa política.
O desempenho brasileiro, na comparação internacional, é também prejudicado por outros fatores. O baixo crescimento econômico é um deles. Mesmo os trabalhadores empregados nos setores mais eficientes poderiam produzir mais, se as empresas funcionassem num ambiente mais favorável. Um sistema tributário irracional dificulta o investimento e prejudica tanto produtores como consumidores. A baixa qualidade da administração pública emperra as decisões políticas, dificulta os investimentos do setor público e impossibilita a expansão e a modernização da infra-estrutura. Tudo isso resulta em maiores custos e, portanto, em menor eficiência. Nas empresas do setor formal, um número enorme de horas é consumido no atendimento de obrigações burocráticas impostas pelo governo. As operações administrativas necessárias ao cumprimento das obrigações fiscais são muito mais onerosas do que em outros países.
A economia brasileira, portanto, é duplamente prejudicada pela baixa qualidade do setor público: nem absorve o enorme contingente de trabalhadores pobres e despreparados em atividades minimamente produtivas nem consegue elevar o padrão daqueles já incorporados aos setores modernos. Grande parcela do dinheiro entregue ao governo para investimentos e para prestação de serviços é desperdiçada. Parte desaparece no ralo da corrupção, parte se esvai na sustentação de um aparelho governamental muito ineficiente. É esse o verdadeiro recado transmitido pelo estudo da OIT.