Pico dos preços
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, está apostando na supersafra que será colhida este ano para ajudar a derrubar a inflação, que deu um salto nas últimas semanas, tanto no IPCA quando nos IGPs. As expectativas são boas para a produção de grãos no Brasil, e a colheita vai reduzir os preços em vários produtos, mas, em outros, as pressões vão continuar mantendo as cotações elevadas.
Na semana, o IGP-DI deu um susto ao atingir 1,39%, quando a mediana das previsões era de 0,80%. O IPCA foi o dobro do índice registrado no mês passado.
A grande dúvida é se essas pressões são temporárias ou não.
Como é da natureza dos preços dos alimentos, a volatilidade é alta. São preços que oscilam muito, dependendo do período ou de eventos climáticos.
O Brasil está em plena entressafra, e, normalmente, já haveria mesmo alta nos preços das carnes, do leite e dos derivados. Mesmo assim, há produtos em que a oferta caiu este ano no mundo inteiro, como o trigo, que está no seu menor estoque em 26 anos. A seca na Austrália é razão para a redução da oferta de vários produtos, como o trigo, que, além disso, teve também quebra de safra no Canadá e na Europa.
Não adianta, portanto, reduzir tarifas de importação para produtos cuja escassez é mundial.
A Mendonça de Barros Associados acha que o pior passou, em termos de inflação de alimentos.
Seu boletim de conjuntura diz que “a tendência geral é de desaceleração do crescimento dos preços agrícolas nos próximos meses. O pico de alta já passou, mas, até novembro e dezembro, ainda podem ocorrer elevações importantes em alguns produtos, mesmo que em intensidade menor do que ocorreu”.
O preço do leite deve cair com a volta das chuvas e o fim da entressafra, mas não deve voltar ao patamar do ano passado por três motivos, segundo a MB Associados: redução da produção no mundo; redução do rebanho leiteiro no Brasil; diminuição do subsídio na Europa, que é a região responsável pela produção de 1/3 dos derivados de leite.
O ministro Mantega acha que outra razão dos preços em alta é o aumento do consumo mundial provocado por melhoria de renda. No Brasil, esse aumento de demanda seria produzido pela elevação da massa salarial.
Em alguns países, isso está provocando mais inflação, como na China, que em julho registrou inflação de 5,6% em comparação ao mesmo mês do ano passado.
Além disso, a produção do etanol reduziu a área plantada de outras culturas nos Estados Unidos. O milho para alimentação foi particularmente atingido.
Como houve também quebra de safra na Europa, o Brasil exportou mais porque o nosso milho não é transgênico.
Segundo a MB Associados, todos esses fatores podem levar os preços a ficar altos até o ano que vem, ainda que em patamares menores que os atuais. Eles caem ao fim da entressafra, mas permanecem acima do nível em que estavam anteriorm e n t e .
Os preços de alimentos subiram particularmente no atacado, elevando índices como os IGPs, que têm, em sua composição, os preços do atacado. O problema é que os IGPs são a base para reajuste de tarifas e de vários contratos.
Essa cadeia de transmissão deixará o Banco Central (BC) ainda mais cauteloso nas próximas reuniões.
Os juros brasileiros permanecem altos, em comparação com o mundo, apesar de já terem caído substancialmente. Problemas complexos, como esse do aumento dos preços dos alimentos e seu reflexo em outros preços da economia, vão certamente deixar o BC ainda mais conservador nos seus movimentos de descida das taxas. O BC terá um bom argumento. Pode dizer que, apesar de todas as críticas, veio reduzindo os juros devagar, mas de forma constante, e conseguiu agora uma conjuntura em que o PIB cresce 5% e a inflação está abaixo da meta.
Seja como for, o ambiente é de pressão inflacionária, cujas duração e intensidade ainda não são conhecidas. Certamente alguns preços vão ceder nas próximas semanas, mas outros continuarão muito altos. Isso levará o Banco Central a ser mais cuidadoso. O mercado financeiro começa a sustentar a idéia de que o piso é 11% de juros, o que significa ter apenas mais uma queda de 0,25 ponto percentual.
A economia vai bem.
Passou bem pela turbulência internacional. Continuará crescendo este ano. A produção industrial registrou um resultado negativo de 0,4% em julho comparado a junho, mas, em termos anuais, a indústria está crescendo 6,8%, e as perspectivas são de um bom crescimento este ano. No seu boletim, a MB Associados diz que o PIB do segundo trimestre deve crescer 4,9% em relação ao segundo trimestre do ano passado, basicamente pelo efeito da indústria.
O ano que vem carrega mais dúvidas. A economia americana vai desacelerar ou pode mesmo entrar em recessão? Seja como for, o melhor momento do mundo passou, e nós só agora pegamos o ritmo do crescimento mundial. A inflação de 2008 está projetada para muito perto da meta, deixando pouca margem para novas reduções das taxas de juros. E é bom lembrar que 11%, que podem ser os juros do fim do ano, ainda é uma taxa muito alta. Um quadro um pouco pior do que este ano.
Mas se a inflação dos alimentos for vencida, já será um grande avanço.
Entrevista:O Estado inteligente
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