Entrevista:O Estado inteligente

sábado, setembro 15, 2007

MILLÔR


ANOHTAÇÕES

CRONO-LÓGICA?

Em qualquer língua, das poucas em que leio, em qualquer autor, sempre me causa estranheza, até um pouco de desagrado, quando, se referindo a uma década, escrevem, por exemplo: "Na década de 1950" ou "Nos anos 1790", também se referindo a década. Reparem, de agora em diante. Quer dizer, querem se referir a uma década e nem ao menos se referem ao século (950, por exemplo), mas ao milênio.

Me expliquem, que é que deu neles?

Divagando

Andy Warhol fez uma frase, conceitual, como eles dizem, que o tornou famoso: "Todo mundo terá seus 15 minutos de glória até o fim do século". Era do século XX que ele falava. Já estamos no XXI.
Deu pra perceber?

Warhol tinha razão. Não há hoje quem não receba, por algum meio ou forma de exposição pública, esses tantos minutos de glória. Seja por ser muito bonito, muito brilhante ou até muito feio. Hoje ninguém precisa ser nada pra ser alguma coisa.

Paradoxalmente Warhol conseguiu fama permanente por ter dito a tal frase. Mas, ah, revelação!: a frase já estava no ar assim que apareceram os meios mais ou menos ecléticos e universais de divulgação. Lima Barreto, sempre antenado mesmo quando ainda não havia antenas, já tinha dito a frase em 1913 nos fascículos O Triste Fim de Policarpo Quaresma: "Houve um em Nitheroi que teve o seu quarto de hora de celebridade".

Peguei essa frase no belo opúsculo de apresentação do pintor José Maria Dias da Cruz, O Brasil em 15 Minutos. Sem querer humilhar ninguém, José Maria é filho do grande Marques Rebelo.

Ah, vocês não conhecem Marques Rebelo?
Nunca leram O ESPELHO PARTIDO, só 3 volumes: O Trapicheiro, A Mudança, A Guerra Está entre Nós? Pô, são apenas 1 694 páginas. Não leram?

Então voltem ao seu Machado de Assis.

Ensaio geral

Tom Stoppard, o maior teatrólogo do século XX (Brecht, que vocês acham genial, era apenas um dramaturgo ideológico, médio como dramaturgo e não confiável como ideólogo), já escreveu peça, representada em Londres, com duração de 9 horas.

E escreveu adaptação do Hamlet, também representada em Londres, com apenas 20 minutos de duração.

Me sentindo desafiado por ele, fiz uma adaptação do Hamlet em 4 segundos. Aqui vai:

Hamlet – Ser ou não ser. (Cai morto.)

Horácio – O resto é silêncio.

E pra não dizerem que esqueci a corrupção.

(Proclama que a Igreja, na Idade Média, colocava em todas as suas cúrias sugerindo pagamento de "indulgências".)

"Que sejam malditos pelo que comem e pelo que bebem; pelo que andam e pelo que param; quando remam e quando cavalgam; porque riem e porque choram; em casa ou no campo; na água ou em terra, em todos os lugares. Amaldiçoados sejam seus pensamentos e suas cabeças; seus olhos e seus ouvidos; suas línguas e seus lábios; seus dentes e suas gargantas; seus ombros e seus peitos; seus pés e suas pernas; suas coxas e seus bofes. E que permaneçam malditos da sola dos pés ao alto da cabeça, a não ser que reflitam no que dizem e pensam e fazem, e venham dar satisfações."

Mensalão – eu, hein?!

Do livro Beyond the Waters – Além das Aguas.

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