Entrevista:O Estado inteligente

domingo, setembro 02, 2007

Mercado acalma, Brasil debate crise

Alberto Tamer

Bush e Bernanke falaram ao mesmo tempo e o mercado se acalmou; as bolsas fecharam em alta em semana mais tranqüila, fazendo prever que a crise está sendo controlada com a forte injeção de liquidez promovida pelos bancos centrais, mais de US$ 500 bilhões.

Certamente foi um movimento combinado, em Washington. Enquanto Bernanke não prometia nada além de reafirmar que está atento para agir para socorrer o mercado, mas não os que ousaram demais, Bush prometia tudo.

Em entrevista incisiva, ao lado do secretário do Tesouro, Henry Paulson, ele admitiu que houve excessos, mas que o governo vai ajudar. Informou que deu ordem para que Paulson faça um levantamento para identificar as famílias que compraram imóveis e estão com mais de 90 dias de atraso e socorrê-las. Será uma ajuda a cada família, não às instituições imprudentes. Ninguém vai perder a sua casa, assegurou ele.

Mas, no fundo, tanto Bush quanto Bernanke sabem que, dando esses sinais, estão ajudando a todos - proprietários de imóveis com hipotecas atrasadas e, indiretamente, as instituições que os financiaram sem avaliar riscos. E, com isso, pretendem esvaziar a crise.

Deu certo. A semana que, dissemos na última coluna, seria decisiva, terminou bem. Já se pode respirar melhor.

A SITUAÇÃO NO BRASIL

Mas o Brasil continua na berlinda. Não temos problemas com hipotecas, dispomos de um sistema financeiro e bancário muito sólido, mas não estamos imunes a uma crise maior lá fora, tal o peso do capital externo na economia.

E é, em parte, para avaliar isso que o Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec) realizará na quarta-feira, a partir das 9 horas, na Bovespa, fórum sob o tema "Nova oportunidade para o mercado de capitais e o desenvolvimento e como torná-la sustentável considerando a atual turbulência internacional". Estarão presentes Antonio Carlos Rocca, Afonso Celso Pastore, Delfim Netto, entre outros especialistas do setor financeiro. O seminário terá a duração de um dia.

A coluna conversou com João Paulo dos Reis Velloso, presidente do Ibmec, cuja criação está completando cinco anos. A seguir, alguns tópicos.

IMPACTO DA CRISE

O que sabemos até agora é que houve uma "crônica da crise anunciada", em que todas as instituições de mercado, principalmente nos EUA, erraram feio. Por isso, a partir de agora, as vacas gordas na economia mundial serão menos gordas, a menos que os grandes emergentes compensem o mais baixo crescimento americano. Não sabemos se a crônica vai ter novos capítulos, e só os que acreditam que o futuro está contido no passado (não é o meu caso) se arriscam a fazer previsões quantitativas.Talvez possamos dizer que em 2008 o País vai crescer um pouco menos que este ano. Com a ajuda de Deus.

CRESCIMENTO DE 5%

"The show must go on," a vida continua e devemos cuidar da "síndrome macroeconômica" - o conjunto interligado de fatores, como juros excessivamente elevados (é preciso que continuem caindo), excesso de gastos de custeio do governo, altíssima carga tributária e taxa de câmbio flutuante, que flutua para baixo. Isso cria uma camisa de força para o governo e, principalmente, para o setor privado.

MENOS LIQUIDEZ INTERNA

O mercado de capitais brasileiro teve um boom nos últimos anos. Esse crescimento é sustentável ou apenas fruto do excesso de liquidez do mercado internacional? O enxugamento dessa liquidez vai afetar os futuros lançamentos de ação? Velloso responde.

"Esse é exatamente, o tema do fórum que estamos promovendo. Por enquanto, pode-se dizer que os fundamentos do mercado, desta vez, estão bem; o Plano Diretor avançou bastante; a regulação (CVM) tem feito grandes avanços, em termos de novos e excelentes instrumentos; a auto-regulação (bolsas)também; o mercado desperta interesse de investidores nacionais e estrangeiros, incluindo investidores individuais e muitos fundos brasileiros.

O futuro dos novos IPOs vai depender da evolução de todos esses fatores.

CARGA TRIBUTÁRIA E MERCADO

A relação dívida líquida/PIB é a resultante daquela síndrome macro e faz o crowding-out (deslocamento de recursos) do setor privado e, particularmente, do mercado de capitais para o setor público, o governo. Felizmente, já foram reduzidas a um mínimo as duas armadilhas que tinham sido atreladas à dívida: dependência da taxa Selic e dependência de flutuações cambiais.

Agora, é desmontar, progressiva mas firmemente, cada um dos citados componentes da síndrome.

COMÉRCIO EXTERIOR

Nossas exportações, como se sabe, cresceram muito nos últimos anos. Mas isso esteve ligado notadamente ao aumento da demanda por commodities, elevando seus preços. Isso não é fonte confiável de crescimento das exportações. Para tornar o Brasil um grande exportador (e importador, de forma sustentável), precisamos de uma política permanente de desenvolvimento das exportações, como propôs no último fórum nacional a Associação Brasileira de Exportadores. Somente isso levará ao "investimento para exportar", numa política de duplo mercado (interno e externo).

E essa "política permanente" deve ser capaz, também, de eliminar as barreiras internas às exportações, tão prejudiciais e difíceis de superar.

Quanto às barreiras externas, um elemento favorável: segundo levantamento recente do BNDES, os planos de investimento das empresas brasileiras alcançaram um nível que não se via há muito tempo. É grande o número delas que estão se transformando em empresas globais, investindo também no exterior, para maior penetração em mercados mais dinâmicos.

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