Presidente diz, em discurso a militantes, que ''''nenhum petista tem de ter vergonha de defender um companheiro''''
Vera Rosa e Wilson Tosta
Veja mais sobre o mensalão ''''A vida é muito curta e nós vivemos em média, num país como o Brasil, 70 anos. Nós não temos o direito de nos sentir derrotados, qualquer que seja a adversidade que enfrentarmos. Mais importante: nenhum petista tem que ter vergonha de defender um companheiro'''', afirmou o presidente. ''''O PT não pode se acovardar nesse debate.'''' Mal terminou a frase, foi aplaudido de pé. ''''Partido, partido, é dos trabalhadores'''', gritaram os petistas. Na platéia, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e o deputado Paulo Rocha (PA) - que integram a lista dos processados - também levantaram. A defesa feita por Lula - em sua primeira visita a São Paulo desde o acidente com o avião da TAM, em julho - foi planejada para encerrar de uma vez o assunto e salvar o encontro do PT, até aquele momento contaminado pelo julgamento do STF. Um dia antes, o presidente já havia mandado um recado aos dirigentes do partido: não queria que o mensalão dominasse a agenda do encontro. Ao saber que petistas cogitavam abrir o encontro com um ato de desagravo aos réus do mensalão, Lula chegou até mesmo a desmarcar sua presença, prevista para a abertura, na noite de sexta-feira. Foi necessária muita negociação para convencê-lo a comparecer. A estratégia do presidente foi puxar a polêmica para si e fazer um pronunciamento à esquerda, como se estivesse num palanque de campanha. ''''Saio desse congresso com a alma lavada'''', bradou. Aos gritos, Lula disse, ainda, que nenhum adversário tinha mais moral e ética do que ele para fazer julgamentos e atacar o PT. ''''É preciso que a gente fique alerta porque eles não vão nos deixar nadar em águas tranqüilas o tempo inteiro'''', insistiu. ''''É preciso que estejamos preparados para os tsunamis que virão.'''' Ao lado de oito ministros, Lula lembrou até mesmo de petistas que enfrentaram a ditadura, na luta pela democracia, e morreram nos últimos anos. ''''Uma luta não se faz sem dor, sem ferimentos. Nós já perdemos tanta gente... O importante é que nada do que nos aconteça, processados ou não, pode nos esmorecer'''', reforçou. ''''SÓ ELES SABEM'''' Os aplausos eram constantes. Sem usar o termo mensalão, Lula falou da crise que abateu a cúpula do PT, em 2005, e atingiu o governo. ''''Só eu sei o que passei'''', resumiu. A menção foi feita logo no início de seu discurso, que durou uma hora. O presidente não citou nenhum acusado, mas foi taxativo ao pedir solidariedade. ''''Até agora, nenhum deles foi inocentado, mas também nenhum deles foi culpado'''', afirmou. Mais uma vez, disse que nada sabia sobre o esquema da compra de apoio político. ''''Tem um processo e somente esses companheiros - nem eu nem vocês - sabem o que aconteceu.'''' Diante da platéia formada por velhos companheiros do PT e convidados internacionais, Lula repetiu seu mantra preferido: os culpados pagarão pelos erros e os inocentes serão absolvidos. Depois, voltou a pregar solidariedade aos acusados, dizendo também já ter recebido compreensão do PT. ''''Na política, nós não precisamos ser mais duros do que somos. Não podemos perder a sensibilidade e o companheirismo porque é exatamente quando a gente está vivendo momentos difíceis que precisa'''', argumentou. Ao longo do pronunciamento - uma parte de improviso e a outra lida -, Lula exaltou as realizações do seu governo, como o Bolsa-Família e o ProUni, deu estocadas na imprensa e disse ficar ''''boquiaberto'''' ao ver interpretações de que joga pobres contra a classe média. ''''Estejam certos de uma coisa: essa costa desse pernambucano que por obra de vocês governa o País está calejada, muito, mas muito calejada dos preconceitos, às vezes até do ódio de classe'''', afirmou. Lula se referiu três vezes ao preconceito e disse que o PT não se pode ''''apequenar''''. ''''Somos um partido de vencedores!'''', exclamou, para levantar o moral da tropa. Sem citar o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, deu uma sutil estocada no tucano. ''''Quando deixar a Presidência, voltarei a ser o Lula que sempre fui. Quero freqüentar os mesmos lugares, não vou fazer curso de pós-graduação nem estágio em nenhum lugar. Vou continuar viajando pelo Brasil, vou tentar continuar a única coisa que eu sei e gosto de fazer: mas quero fazer isso com a alma limpa, com muita tranqüilidade, sem mágoa, sem ressentimento, e não darei um palpite sobre quem me suceder, seja para o bem ou para o mal.'''' Lula cobrou ''''maturidade'''' dos petistas nas decisões tomadas no 3º Congresso do PT, que termina hoje. ''''Não somos um partido que nasceu para ser oposição. Somos um partido que nasceu para governar o destino dessa Nação e fazer as transformações que precisam ser feitas.'''' A platéia não se conteve. Sem candidato natural às eleições de 2010, os petistas entoaram o hino das campanhas de Lula.