BRASÍLIA - No caso de Renan Calheiros, Lula tenta levar vantagem em tudo. Para ficar bem com a opinião pública, jura que não atua nem contra nem a favor. Para manter o PMDB fiel e acomodado, trabalha por baixo dos panos para tentar salvar o presidente do Senado.
A decisão deverá ser nesta quarta-feira pelo plenário, embalado pelo Conselho de Ética, que pediu a cassação por 11 votos a 4. Mas qualquer aposta é arriscada. Renan tem a presidência, liderança no PMDB e bons advogados.
E luta desesperadamente contra a avalanche de acusações. No mínimo, são histórias mal contadas que vão se sobrepondo e nem dá mais para acompanhar.
Tudo o que os senadores -ou eleitores- tinham de saber, já sabem ou tinham obrigação de saber.
O voto objetivo já está pronto e amadurecido. Mas a questão é outra, essencialmente política: a quem interessa ou não a cassação do presidente da Casa? A reta final, portanto, é do voto subjetivo, aquele em que pesam menos as provas e os indícios e mais as perdas e os ganhos de cada um, parlamentar ou partido.
Pelo voto objetivo, Renan estaria liqüidado. Quando a questão resvala do concreto para o abstrato, ele lucra. Não é bom para explicar o inexplicável, mas é muito bom quando se trata de assediar, convencer, ganhar. Tem sido aliado de todos os governos, de Collor a Lula.
A seu favor contam também as regras do jogo. Sessão secreta, com voto secreto, é o melhor dos mundos para políticos experientes, que preferem o escurinho do cinema a ver os pareceres dos relatores expostos para o país pela TV Senado, e os votos, por toda a mídia.
Lula está pronto para o que der e vier. Se Renan perder, dirá que não sabia, não tinha nada a ver com isso.
Se ganhar e ficar no Senado, Lula arranjará um jeito de se fazer credor do PMDB. Independentemente do resultado, a grande vítima desta vez não é você. É o Senado.
Entrevista:O Estado inteligente
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domingo, setembro 09, 2007
ELIANE CANTANHÊDE
No escurinho do cinema
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