Entrevista:O Estado inteligente

domingo, setembro 09, 2007

CLÓVIS ROSSI

Sobra dinheiro? Põe dinheiro

HELSINQUE - As idas e vindas nos mercados financeiros são um denso mistério para você? Pois entre em pânico: são também um denso mistério para as autoridades globais, que deveriam pelo menos entendê-las para controlá-las.
O raciocínio é desenvolvido com uma clareza fenomenal por Ángel Ubide, colunista do espanhol "El País", que começa lembrando que todo mundo falava, nos últimos meses, de "excesso de liqüidez", dinheiro demais em circulação.
Veio a turbulência "e os bancos centrais acrescentaram liqüidez de maneira indiscriminada -quer dizer, acrescentaram liqüidez a uma situação de excesso de liqüidez para resolver uma crise de liqüidez. Algo não fecha".
Fecha, sim, explica Ubide em seguida: "O problema é que não vivíamos em um mundo de excessiva liqüidez no sentido tradicional, mas em um mundo de excessiva alavancagem [um empréstimo alavancado por outro], às vezes não bem compreendido pelas autoridades".
Acrescento eu: os especialistas também estavam distraídos, tanto que previam crescimento de 110 mil empregos nos EUA. Deu queda de 4 mil. E tome turbulência.
O esquema corresponde a vender seguro contra uma catástrofe de ocorrência altamente improvável. Um tsunami no Brasil, digamos.
Como, mês a mês, ano a ano, a catástrofe não ocorre, quem vendeu o seguro consegue uma renda líqüida, certa -e estável. Aí, vem o tsunami e leva tudo.
Por sorte, não aconteceu (ainda) um tsunami nas finanças globais.
Talvez nem ocorra. Mas Ubide lembrava, antes da nova turbulência, que a injeção de liqüidez pode até ter resolvido o falso problema da "crise de liqüidez", mas não foi superada a "crise de confiança", que se tornou o verdadeiro problema.
Tanto que, na Europa, os juros a três meses estão mais elevados que no início da confusão. Não dá pois para relaxar e gozar.

crossi@uol.com.br

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