Entrevista:O Estado inteligente

domingo, setembro 02, 2007

ELIANE CANTANHÊDE

ELIANE CANTANHÊDE

Afronta desnecessária

BRASÍLIA - Os comandos militares não gostaram, mas estavam dispostos a engolir em seco o livro "Direito à Memória e à Verdade", documento oficial sobre torturas e mortes do regime militar lançado por Lula no Planalto na quarta passada. Quem entornou o caldo foi o ministro da Defesa, Nelson Jobim.
Lula confortou as famílias das vítimas sem provocar os militares, mas Jobim preferiu ameaçar eventuais críticos do livro: "Não haverá indivíduo que possa reagir e, se houver, terá resposta", disse.
O Exército tinha decidido calar, mas mudou de idéia. O Alto Comando fez reunião extraordinária na sexta e distribuiu nota avisando: não aceita revisão da Lei da Anistia para julgar militares por crimes durante a ditadura, como no Chile e na Argentina; desautoriza a versão de que o Exército de hoje seja diferente do Exército de ontem; e adverte que "fatos históricos têm diferentes versões". Acham que a do livro reflete apenas um lado, não o deles.
A nota é dura, mas bastante amena perto da versão original rascunhada na reunião do Alto Comando, onde oficiais-generais indignados diziam que o Exército "não está morto e não é a Anac" -que Jobim trata no tapa e está desmontando.
Segundo eles, o ministro faz o gênero zangado, mas não tem poder para punir oficiais. No máximo, pode sugerir a troca do comandante ao presidente, que aceita ou não. No último confronto do tipo, entre o ministro José Viegas e o general Francisco Albuquerque, quem levou a pior foi o ministro.
Jobim falou mais do que devia e comprou uma briga de graça com uma área sensível e arisca. A um assessor do Planalto que lhe perguntou se os comandantes militares não iriam ao lançamento do livro, o ministro respondeu, do alto de seu 1m90: "O comandante sou eu". Digamos que não é exatamente assim e que um pouco de jeito não faz mal a ninguém. Aliás, o chefe Lula é um excelente exemplo disso.

elianec@uol.com.br

Arquivo do blog