O Estado de S. Paulo |
12/9/2007 |
Independentemente do caráter sigiloso da sessão, o resultado do julgamento do presidente do Senado, Renan Calheiros, é imprevisível. Se fosse aberta, mas com voto secreto, a dúvida seria quase a mesma, pois vale mais o que os senadores farão na urna do que o que dirão na tribuna. Entre os que já declararam o voto, a maioria o fez a favor da cassação. É a tese mais popular, mas não necessariamente a que prevalecerá. Calheiros é um presidente querido e só por isso conseguiu durante estes três meses e meio permanecer na presidência, a despeito da desmoralização que sua presença rendeu ao Senado. O colegiado resistiu junto com ele estoicamente a todas as críticas. Não se deve retirar do cenário, portanto, a hipótese de esse mesmo colegiado optar por permanecer na resistência. A questão que se impõe, porém, nesta altura é: resistindo a quê? Com que motivação e objetivo? Renan Calheiros chega ao seu Dia D como uma sombra do que já foi. Se não tivesse levado os pares à exasperação resultante do desgaste, se não tivesse apostado no velho truque do esquecimento da imprensa e no cansaço da opinião pública e tivesse enfrentado logo o julgamento, muito provavelmente hoje seria um presidente absolvido, um pouco mais fragilizado, mas salvo por conta dos interesses que sua permanência conseguiria mobilizar. Hoje, se interesses há, são parcos e obscuros. Não obstante a imprevisibilidade do resultado, uma coisa é certa: o clima é desfavorável a ele. Na base da aposta sem compromisso com o acerto, o ambiente aponta para a cassação. E pelo conjunto da obra: o relatório com oito motivos para a cassação, a conduta abusiva de poder durante o processo, a fadiga do material, a perda de condições para acertos de bastidor, a falta de clima político para o Planalto tomar a si a causa, o efeito STF e principalmente a ausência de um motivo concreto para o Senado virar as costas às evidências e aceitar salvar o cabeça, arriscando-se a condenar o resto do corpo. Sim, porque dependendo do resultado de hoje, ou o Senado fica sem um presidente por cinco dias (tempo necessário à convocação de nova eleição) ou será apenas um presidente sem Senado até fevereiro de 2009, quando terminaria o mandato regulamentar de Calheiros. Uma espécie de mula sem cabeça às avessas, correndo desgovernada para lugar nenhum. E por que aos senadores interessaria esse tipo de situação? Aí é que está: não interessa a ninguém, nem ao governo nem à oposição. A tese do acordo da renúncia à presidência em troca do mandato perdeu o prazo de validade em função da teimosia do réu. Feito lá atrás, esse acerto teria alguma chance de prosperar. Hoje, deixa a impressão de remendo mal feito. A história da conturbação da base governista com a saída dele tampouco pára em pé. A oposição não reivindica a sério o cargo e, em nome do governo, o vice Tião Viana tem credibilidade, trânsito e confiabilidade suficientes para encaminhar um processo de substituição sem maiores percalços. Inclusive para a votação da CPMF, cujos maiores obstáculos estão do lado de fora (na mobilização do empresariado) e não de dentro do Congresso. Livre do ectoplasma Calheiros, o Senado votará em ambiente bastante mais respirável. Pela lógica, não há motivo para o Senado segurar o presidente. Mas, como nada mais se sustenta na lógica, convém não duvidar da capacidade do Congresso de dar um passo adiante à margem do abismo. Ululante O presidente da República declarou, solene, que a decisão de hoje no Senado deverá “ser respeitada”. Como se houvesse espaço para desrespeito. Certos momentos da política nacional mereceriam do chefe da Nação pensamentos mais elaborados que a produção de obviedades. Não combina com o perfil de quem se diz um político com posições nítidas e as reivindica para atuar em momentos eleitorais. Maternidade O senador “mezzo” petista, Delcídio Amaral, não deixa de ter razão quando aponta a intenção malévola da oposição de “jogar a bomba” Renan Calheiros no colo do partido. O presidente do Senado tem amigos em todas as bancadas. Agora, convenhamos que nenhum líder teve comportamento tão acintoso - imprudente até - na defesa de Calheiros no início do processo quanto a petista Ideli Salvatti. Depois que as provas contra ele apareceram mais robustas, a líder baixou um pouco o tom. Mas nas primeiras reuniões do Conselho de Ética fez verdadeiras diatribes contra o trabalho da imprensa que, segundo ela, no mínimo deveria ser obrigada a se retratar. O único petista desde o começo empenhado nas investigações foi o senador Eduardo Suplicy, cujo conceito dentro da bancada faz dele algo próximo de uma ovelha negra. O PT comprou o problema três meses atrás por um preço e agora não consegue passar adiante a mercadoria inflacionada pelos fatos.
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Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, setembro 12, 2007
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