O Estado de S. Paulo |
20/9/2007 |
Justiça se faça ao senador Aloizio Mercadante: Deus lhe deu o dom do arrependimento. A ele e a toda a bancada do PT, que percebeu o quanto exagerou na dose ao se jogar de peito aberto na defesa do mandato do senador Renan Calheiros sem obter com isso nenhuma vantagem objetiva. Ao contrário, só conseguiu amealhar desvantagens. Para recuperar o terreno perdido naquela manobra supostamente esperta da abstenção, é preciso, porém, o partido fazer mais que discursar pedindo pelo amor de Deus para o presidente do Senado sair de mansinho, tirar umas férias e salvar as aparências. A chance de o PT recobrar os sentidos está posta: basta ajudar a tirar do regimento da Casa a norma da sessão secreta para cassação de mandatos, dar votos para a aprovação a toque de caixa da emenda constitucional que acaba com o voto secreto no Parlamento e trabalhar por uma tramitação rápida na Câmara. Feito isso, é se integrar ao grupo interessado em apressar os outros dois processos por quebra de decoro parlamentar, apoiar a quarta representação a ser examinada hoje pela Mesa do Senado e, quando estiver tudo pronto para a votação final no plenário, será necessário o PT assumir uma posição contra ou a favor do conjunto da obra construída pelo senador Renan Calheiros. Sem cumprir esse roteiro básico, ficará difícil se tornar sócio majoritário de um eventual afastamento. Por enquanto, na figura de Mercadante deu apenas um adeusinho amigo à arquibancada. Manifestou a intenção de reatar relações com a opinião do público, mas não produziu um gesto no sentido de dar substância ao discurso concebido depois de ter percebido que, diferentemente de Lula, não é inimputável, não pode sair fazendo qualquer coisa sem pagar a conta. E uma conta alta, porque desta vez foi vítima do próprio veneno. O PT costuma vencer as batalhas lançando na praça uma versão que lhe interessa dos fatos e, de tanto repeti-la, acaba firmando jurisprudência de verdade. No episódio da absolvição, a oposição recorreu primeiro ao estratagema. O fechamento de questão do PSDB e do Democratas foi mera figuração, vários valeram-se do sigilo do voto para ficar com a absolvição. Mas os dois partidos uma semana antes trataram de fazer a cama petista atribuindo ao partido a condição de fiel da balança. Ora, num colegiado estreito como aquele, qualquer meia dúzia, inclusive uma meia dúzia oposicionista, podia ser o fiel da balança. Mas, indiferente ao dogma de que madeira que bate em chico bate também em francisco, o PT caiu na armadilha e ainda achou que pudesse sair dela com a história da abstenção assumida como voto de dúvida cívica. Resultado: virou o vilão, posição na qual não está acostumado a jogar. Agora, para sair dela o muro não é a tribuna mais confortável. Inclusive porque está lotado. O PT terá necessariamente, até porque a oposição o levará a isso, de assumir uma posição clara. Se quiser tirar o presidente do Senado do caminho terá de fazê-lo à vera. À brinca, sem dizer se considera o colega culpado ou inocente, pedindo que tire umas férias, que seja bonzinho e ajude o partido a sair dessa enrascada, não conseguirá nada, pois na escola onde cursa o maternal, Renan Calheiros é professor. Obra inacabada A piada é de gosto para lá de duvidoso, mas corre no Congresso: os seguranças que trocaram socos com os deputados que tentavam entrar na sessão secreta do Senado na semana passada deveriam ser punidos não por terem batido, mas por não terem batido mais nas impertinentes excelências. A propósito, o presidente da Câmara pediu punições, mas pelo jeito vai ficar tudo por isso mesmo. Fio do bigode Em 2003, o presidente Lula prometeu aos governadores que o ajudaram a aprovar a renovação da CPMF e da DRU, e subiram com ele a rampa do Congresso para avalizar as reformas que interessavam ao governo, “compensações tributárias” a serem negociadas posteriormente. Ficaram no ora veja. Depois de obter o que queria o Planalto desconversou. Agora, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, acena com a possibilidade de reduzir a alíquota da CPMF, mas quer antes a renovação do imposto por mais quatro anos no patamar atual, sem dar nenhuma garantia além da palavra que já foi rompida lá atrás, de que a promessa de compensação desta vez é para valer. Apesar disso, os dois governadores mais importantes do País, Aécio Neves e José Serra, estão mudos feito peixe. E isso mesmo tendo sido Aécio um dos governadores levados na conversa há quatro anos. Pelo visto, mas talvez justamente pelo não visto, desistiu da tarefa que havia tomado para si há alguns meses de capitanear a movimentação oposicionista com vistas a dificultar a aprovação da CPMF caso o governo federal não aceitasse discutir a sério a redistribuição de impostos e contribuições com Estados e municípios. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quinta-feira, setembro 20, 2007
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