Entrevista:O Estado inteligente

domingo, setembro 16, 2007

Dez anos de Petrobrás e Eletrobrás

Suely Caldas

Nos últimos dez anos as duas maiores estatais brasileiras - Petrobrás e Eletrobrás - seguiram trajetórias inversas, que revelam histórias diferentes de sucesso e fracasso. Enquanto a petrolífera multiplicou em 20 vezes seu valor de mercado (cotado ao preço da ação na Bovespa), saltando de R$ 13,6 bilhões para R$ 280 bilhões, a holding do setor elétrico não chegou a duplicar de valor, avançando timidamente de R$ 20 bilhões para apenas R$ 30 bilhões.

Quando a comparação muda para o desempenho financeiro, o resultado é ainda mais chocante: em 1996 a Eletrobrás lucrou R$ 2,4 bilhões, 3,5 vezes acima dos R$ 668 milhões da Petrobrás. Dez anos depois, em 2006, o lucro da petroleira somou quase R$ 26 bilhões e o da elétrica encolheu para R$ 1,16 bilhão.

O que aconteceu em dez anos que justifique desempenhos tão disparatados? Afinal, as duas eram e ainda são monopolistas, tinham e ainda têm o Estado como acionista controlador, seus consumidores crescem quase no mesmo ritmo, com vantagem para a Eletrobrás. Por que razão a história da Petrobrás é de sucesso e a da Eletrobrás, de fracasso? Diferentes fatores econômicos influenciaram, mas os de natureza política foram determinantes para o critério de avaliação do mercado de capitais, cada vez mais exigente de transparência e gestão profissional eficiente e de qualidade.

Ao longo da história a Petrobrás, criada em 1954, e a Eletrobrás, em 1962, têm sofrido do mesmo mal que contamina todo o espaço público no Brasil: a nociva interferência política, prejudicando o desempenho econômico. Nos 20 anos de governo militar, a petroleira foi dominada por generais e almirantes, que levaram para a empresa o estilo duro e limitador da gestão de quartel. A Eletrobrás e suas subsidiárias tinham em seu comando o grupo do falecido senador baiano Antonio Carlos Magalhães, que continuou até meados do governo FHC.

Por causa do regime militar fechado, ações irregulares desse período pouco ficaram conhecidas. Casos de uso político ficaram mais visíveis a partir do governo José Sarney. Alguns deles:

Em 1988 o diretor e compadre de Sarney, o general Albérico Barroso Alves, e seu grupo fraudaram notas fiscais da BR Distribuidora.

Em 1990 o ex-presidente Fernando Collor nomeou amigos que superfaturavam vendas ao exterior, em prejuízo aos cofres da Petrobrás.

Para a Eletrobrás Collor nomeou José Maria Siqueira de Barros, que comandou operações irregulares na empresa. Afastado em 1992, Barros foi dirigir o Metrô de São Paulo, no governo Maluf, onde também foi acusado de fraudes.

No primeiro mandato de FHC a Petrobrás fez contratos suspeitos com o setor petroquímico da Odebrecht e de compra de plataformas com a Marítima, de German Efromovich.

Mas no segundo mandato de FHC, com Henri Philippe Reichstul na presidência, a Petrobrás começou a escrever sua história de sucesso. Movido pelo duplo e contraditório desafio de facilitar a abertura do monopólio e, ao mesmo tempo, fortificar a estatal, Reichstul definiu um plano estratégico inovador e um método de gestão transparente, desencavou esqueletos históricos e levou a Petrobrás a vender ações na Bolsa de Nova York, multiplicando em 500 mil seus investidores - brasileiros e estrangeiros. Quando saiu da empresa, Reichstul havia mais que triplicado seu valor de mercado.

No governo Lula o novo presidente, José Sérgio Gabrielli, manteve a estratégia e a estrutura de gestão que herdou. O crescente preço do petróleo tem garantido bons lucros, mas não conseguiu livrar a Petrobrás de interferências políticas nos negócios com a Bolívia e a Venezuela. A contratação de diretores e sindicalistas por indicações políticas na era Lula atrapalha, mas não chega a comprometer o resultado final.

Já a Eletrobrás continua escrevendo sua história de fracasso no mercado de capitais. "Que me perdoe o companheiro Pinguelli, mas ele não tem um só voto no Senado. " A explicação dada por Lula ao demitir Luis Pinguelli Rosa da presidência define bem como ela tem sido usada para atender aos interesses políticos partidários do governo, com cargos de direção loteados e denúncias de irregularidades nas subsidiárias Furnas, Chesf e Eletronorte. Não há transparência na gestão e, interina há quase um ano, a diretoria não tem poder de decisão e paralisa a empresa. Por isso há anos a Eletrobrás tenta e não consegue vender ações em Nova York nem ampliar o número de investidores no Brasil.

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