Entrevista:O Estado inteligente

domingo, setembro 09, 2007

Alberto Tamer

Após forte queda da bolsa, dois dias decisivos


Fim de semana tenso, com forte queda na bolsa, quase 2%, provocada por um resultado abaixo do esperado no mercado de trabalho americano. Muitos analistas afirmam que se caminha abertamente, mas outros acham que "está havendo uma super-reação", pois, na verdade, os indicadores econômicos básicos não se alteraram e nenhum fato novo negativo ocorreu no mercado de crédito, na sexta-feira.

Toda a atenção se volta agora para os próximos dois dias, quando o banco central americano irá decidir se reduz ou não a taxa básica de juro. Se nada fizer, teremos mais turbulências e choques; mesmo se reduzir, o mercado continuará sensível e volátil. O que todos prevêem são ainda dias tumultuados. Por enquanto, a reação é boa, com o consumo interno - 70% do PIB - sustentando-se em ritmo razoável.

Para o professor Carlos Antônio Rocca, que participou do I Fórum do Mercado de Capitais, promovido pelo IBMEC, "o que estamos vendo é apenas mais uma das crises que, de tempos em tempos, aparecem no mercado internacional e que geram certa volatilidade. Porém, esta não colocou em dúvida o crescimento sustentado do mercado de capitais brasileiro, já que a economia nacional tem hoje muito mais condições de enfrentar esses momentos de turbulência internacional fundamentalmente por causa dos avanços institucionais."

E a médio e longo prazo?

Rocca responde à coluna.

"Aí, as maiores preocupações estão relacionadas ao crescimento do País. É fundamental um ajuste fiscal no curto prazo, já que as despesas vêm crescendo cerca de 10% a cada ano. A única forma de conseguirmos reduzir a carga tributária e recuperarmos a competitividade do mercado é conseguindo controlar as despesas correntes. Há financiamento interno."

Para Rocca, o mercado de capitais brasileiro vem aumentando sua participação no financiamento da economia nacional. "Ele cresceu significativamente nos últimos três ou quatro anos. Em 2006, o mercado de capitais representou 82% da poupança nacional. Mais importante, no ano passado, os recursos proporcionados por ele para as empresas representaram 30% de todos os recursos utilizados para o seu financiamento. Os outros 70% representam recursos advindos do mercado internacional, BNDES e bancos privados", afirma.

BASES MAIS FORTES

Uma parcela muito grande desse crescimento está suportada por um avanço muito importante do sistema institucional. Os avanços regulamentares nos últimos anos deram ao mercado uma consistência muito importante, fazendo com que esse período de crescimento tenha uma característica qualitativa muito diferente daquela observada no passado.

"Só para dar um exemplo do que isso significa: primeiro, houve um avanço muito grande da governança corporativa e foram criados mecanismos como, por exemplo, o BovespaFix para transações de títulos de renda fixa", afirma Rocca.

O segundo fator é que, ao longo desse tempo, foram regulamentados novos fundos de investimento com operações que permitem, inclusive, financiar empresas de capital fechado.

A conclusão é que um ponto fundamental foram os avanços institucionais. Inclusive, ¾ das ações específicas no Plano de Mercado de Capitais de 2002 foram total ou parcialmente executadas nesse período. Houve, até, uma interface muito produtiva entre as entidades do setor privado organizadas no âmbito do Plano Diretor e os órgãos reguladores - especialmente a CVM e o Banco Central. Aliás, isso foi extremamente elogiado por Patrick Conroy, diretor e assessor sênior do Banco Mundial, presente ao Fórum.

LIQUIDEZ EXTERNA AJUDOU

Outro componente do crescimento do mercado de capitais está ligado à conjuntura. Tivemos um período que favoreceu enormemente o crescimento do mercado de capitais, já que houve um grande crescimento internacional, com muita liquidez, o que permitiu uma grande participação de investidores externos no mercado doméstico.

Internamente, fatores como a baixa inflação e uma queda sustentada da taxa de juros também deram sua contribuição.

Diante disso, a proposta do Fórum é a de que continuem os avanços regulatórios em termos de transparência, governança, redução de custos de transação, que são elementos básicos para o mercado de capitais funcionar adequadamente.

Economistas do Banco Mundial presentes ao Fórum reconheceram que o mercado de capitais brasileiro está organizado e tem base de sustentação para o longo prazo. Isso não significa, observa Rocca, que já estejamos no nível dos mercados mais maduros, mas temos de continuar nesse esforço para melhorar e aumentar a proporção das empresas brasileiras que estão nos padrões mais elevados de governança.

"Não podemos nos esquecer de que as principais empresas brasileiras são de capital fechado e a nossa carga tributária é incompatível com o desenvolvimento do mercado de capitais e, portanto, torna-se fundamental enfrentar esse obstáculo para o crescimento do mercado de capitais. Além disso, precisamos fazer algumas mudanças pontuais como a redução da burocracia e avançar no sistema de normas contábeis." Já existe um projeto no Congresso para adaptação das normas contábeis nacionais, aproximando-as das regras internacionais, aumentando a transparência.

No fim da tarde de sexta, predominava o pessimismo atenuado pela expectativa - ou esperança? - na redução da taxa de juros.

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