Entrevista:O Estado inteligente

domingo, setembro 16, 2007

Alberto Tamer China deixa Brasil na espera

Após um longo e silencioso inverno, o governo enviou para a China e para a Ásia um representante de alto nível, o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Ivan Ramalho. Assunto: o comércio bilateral. Os chineses ouviram as reclamações dos 32 empresários brasileiros que estavam no grupo oficial, reclamaram também da burocracia e dos impostos. O resultado foi criar "comissões" que continuarão conversando. Esse palavreado vai demorar.

Nós temos pressa, mas eles não, pois estão satisfeitíssimos com o constante aumento de suas exportações, que, nos primeiros oito meses do ano, transformaram em superávit o déficit comercial que tinham com o Brasil. Mais ainda, estão superfelizes, porque 97,4% das suas exportações são de produtos industrializados, que geram emprego na China, enquanto 74% do que importam são de produtos básicos - agrícolas, para saciar a fome do seu povo, e minerais, para alimentar a sua indústria. Estamos em franca posição de inferioridade.

A MISSÃO FOI DEFENSIVA

E uma prova disso é que o objetivo básico da viagem de Ivan Ramalho e dos empresários brasileiros não foi buscar melhores condições de mercados, não, mas, acreditem, foi propor que eles reduzam as exportações para o Brasil. Sim, foi isso. Dá para acreditar? É verdade. Pura defesa tímida e tardia.

O governo chinês já havia aprovado uma lista de restrição com 60 produtos, a maioria de pouco peso comercial. O que estamos reivindicando agora é a inclusão de mais 15, entre os quais têxteis. Sem dúvida, uma meta verdadeiramente "ambiciosa", que, assim mesmo, nem sequer foi alcançada. Eles poderiam ter concordado logo, pois nós pesamos muito pouco no comércio chinês.

Na verdade, quase nada.

COMÉRCIO BILATERAL, SÓ 1%

E os chineses agem assim, de forma desdenhosa, simplesmente porque não temos a menor importância no seu comércio exterior. Neste ano, as exportações globais chinesas já chegaram a US$ 900 bilhões, e certamente vão passar de US$ 1 trilhão, enquanto eles exportam para o Brasil a apreciável soma de US$ 7,9 bilhões. Sim, bilhões, tudo isso.

É verdade que o governo fala de boca cheia que o comércio bilateral entre os dois países, importação e exportação de ambos os lados, deve chegar a US$ 20 bilhões. Certo, mas, se projetarmos esse conceito para o comércio bilateral da China com o mundo, veremos que este é um resultado insignificante. De fato, a soma das importações e exportações chinesas deve chegar, neste ano, a mais de US$ 2 trilhões. Ou seja, nós representamos apenas 1% do comércio global chinês! Uma bagatela.

Mais ainda, não exportamos para a China mais do que US$ 8,3 bilhões, enquanto eles importam US$ 1 trilhão do mundo.

SÓ MAIS 15, POR FAVOR

E nós vamos lá, quase de chapéu na mão, não lutar por maior abertura do mercado chinês, mas pedir que eles poupem um pouquinho o nosso, que invadem com voracidade. Que tal, senhores do governo chinês, acrescentar só mais 15 produtos àquela lista de 60 que vocês tão gentilmente aprovaram?

E, mesmo assim, voltamos de mãos vazias.

Quem sabe, talvez, eles decidam nos exportar menos sapatos baratos fabricados na China com couro brasileiro? Estes, ao contrário dos brinquedos, pelo menos, estão livres de contaminar os nossos pés.

Pensando nisso tudo, meu caro leitor, você não acha que temos mesmo uma política comercial superousada e agressiva?

É O ANO DA ÁSIA!

Acho que essa ousadia já deve ser fruto da nova orientação anunciada pelo Itamaraty.

"Este será o ano da Ásia!", exclamou o ministro Celso Amorim. Agora, sim, estamos nos voltando para a Ásia e vamos, como Vasco da Gama, explorar seus mercados fulgurantes.

Mas pode-se argumentar que o Itamaraty demorou, mas veio! Não há mais o que criticar! Certo? Errado.

Veio com um atraso de pelo menos três anos, um atraso fatal, porque qualquer acordo bilateral ou regional que viermos a fazer com os países asiáticos levará pelo menos mais um ano. Não fizemos nada até agora, não estamos preparados. E nós conhecemos bem a nossa diplomacia comercial brasileira. Quando está com pressa, anda para trás. Tem sido assim o tempo todo em que ficou engatinhando nas saias esfiapadas das negociações de Doha.

E, agora, acordamos, estamos indo quando os EUA já foram e estão vindo, e a União Européia já está lá, negociando a toque de caixa. Nós dormimos um sono que não podíamos ter dormido, simplesmente o mercado asiático é o que mais cresce no mundo e para o qual destinamos apenas 12% das nossas exportações, algo aí em torno de US$ 20 bilhões. E isso não é só para a China, não. É para todos os países asiáticos, incluindo a Índia, exatamente a região que mais cresce e importa no mundo.

Este ano está perdido, o próximo será de negociações, que serão lentas e demoradas, porque eles não têm pressa e há negócios mais importantes para tratar. Agora, é entrar na fila e tentar fazer o que deveríamos ter feito há pelo menos três anos. Mas não faz mal, não. Ânimo, gente. "Este será o Ano da Ásia..." Ufa... Ufa mesmo.

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