Entrevista:O Estado inteligente

sábado, dezembro 16, 2006

Diogo Mainardi

Diogo Mainardi
Fábula capital

"Forjamos reportagens e mais reportagens
sobre a roubalheira do PT. Alguém sugeriu
organizar um golpe. Passamos uns
documentos falsos para os broncos do Palácio
do Planalto e mobilizamos nossos agentes
da Polícia Federal. Viramos o jogo na última
semana. O acidente da Gol quase atrapalhou
nossos planos. Mas impedimos que o
Jornal
Nacional desse a notícia"

Arrumem outro colunista. Passei o ano tentando derrotar o Lula. Fracassei. Eu e mais quatro ou cinco panfleteiros da grande imprensa. Primeiro espalhamos que os petistas roubavam. Ninguém acreditou em nossa mentira. Depois lançamos a candidatura de Geraldo Alckmin, em vez de José Serra, embora o segundo aparecesse nas pesquisas com o dobro dos votos do primeiro. Quem eles pensam que a gente é? Eles pensam que a gente acredita em pesquisas compradas?

Engabelar os ricos é moleza. É o que demonstra a história da humanidade. Muito mais difícil é engabelar os pobres. Forjamos reportagens e mais reportagens. O eleitorado rico logo se rendeu a nós. O eleitorado pobre, dotado de maior discernimento, aquele mesmo discernimento que sempre o levou a fazer as escolhas certas, percebeu o engano e continuou fiel a Lula. Os mais obstinados foram os analfabetos, sobretudo os nordestinos, que se recusaram terminantemente a ler minha coluna e a votar em Geraldo Alckmin, mesmo que de nariz tapado.

Quando percebemos que Lula venceria no primeiro turno, foi um corre-corre danado. Alguém sugeriu organizar um golpe. A proposta foi aceita unanimemente. Um de nós pensou em implicar o chefe da máfia dos sanguessugas. Passamos uns documentos falsos para os broncos do Palácio do Planalto e mobilizamos nossos agentes da Polícia Federal. Com o apoio do resto da imprensa, denunciamos os broncos do Palácio do Planalto e viramos o jogo na última semana de campanha eleitoral. O acidente da Gol, possivelmente engendrado pelo aparato petista, quase atrapalhou nossos planos, desviando o foco dos telespectadores. Mas reagimos a tempo e impedimos que o Jornal Nacional desse a notícia.

Lula ganhou mesmo assim. Apesar de nossas tramóias. Apesar de nosso golpismo. Luis Fernando Verissimo recriminou os ricos por se recusarem a ser governados pelos pobres. Eu sou o retrato disso. Jamais poderei me conformar à perda do poder, depois de 500 anos de supremacia incontrastada. Estou até respondendo judicialmente pelas calúnias que pronunciei contra os pobres membros da classe trabalhadora da Previ, da Petros e do Funcef. A Previ tem um patrimônio líquido de 100 bilhões de reais. O da Petros é de 30 bilhões. O do Funcef é de 25 bilhões. Fui acusado de ofender esses pobres trabalhadores de "forma covarde".

Que fique claro: nunca fui rico. Que fique igualmente claro: nunca mandei em ninguém. Mas os petistas garantem que sou a voz do dono. E o dono é rico e manda num bocado de gente. Se Carlos Heitor Cony até hoje é conhecido como Manchetinha, por ser a voz de Adolpho Bloch, eu devo ser o Abrilzinho. Falei com o dono da Abril apenas uma vez na vida, num almoço. Os temas tratados foram etimologia e Tiazinha. Mesmo assim, os petistas dizem que tento interpretar seus desejos e editorializá-los em minha coluna.

Eu e os outros panfleteiros da grande imprensa ficamos baqueados com a vitória esmagadora de Lula. Aguardem: um dia a gente volta.

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