Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, maio 12, 2006

LUÍS NASSIF Exportações e múlti

FOLHA

  Os problemas da Volkswagen do Brasil são fáceis de entender. A opinião é de um ex-executivo do setor automobilístico, Antonio Maciel Neto, ex-presidente da Ford para a América Latina.
O setor trabalha com margens de 2% a 5%. Cada melhoria de processo permite ganhos de 1%, 2%. Uma apreciação de câmbio joga 20%, 30% de custos adicionais.
A Volks montou um programa de exportação do Fox quatro anos atrás. Investiu US$ 300 milhões. A idéia era exportar de 150 mil a 180 mil automóveis por ano. Só de câmbio, nesse período, levou na cabeça um sobrepreço de 30%.
Não apenas isso. Nos últimos anos, a privatização de vários insumos permitiu uma notável redução de custos, mas não de preços. Só a Ford perdeu dois ou três projetos fundamentais por conta do preço do aço. Hoje em dia, paga-se pelo aço brasileiro 20% a mais do que a Europa paga pelo seu aço.
A culpa é dos dois setores, montadoras e siderúrgicas, que há muito deveriam ter montado contratos de longo prazo para prevenir oscilações nos preços, como fazem os países europeus. Agora a roda vai rodar, o preço do aço deve cair. É o momento de se firmarem os acordos de longo prazo.
De qualquer modo, as multinacionais instaladas no Brasil têm papel relevante para assegurar a sustentabilidade das exportações brasileiras. O Brasil logrou avanços em várias áreas. Passou a dispor de uma engenharia própria, que garantiu, por exemplo, o sucesso do carro bicombustível. Segundo Maciel, as oportunidades brasileiras residem na seguinte agenda para o setor privado e para governo.
Para o setor privado:
1) Existe mercado interno grande para determinados produtos. No caso do setor automobilístico, do popular ao carro médio. Desenvolvimento local do produto, com inovações ou no designer, na performance ou nas especificações.
2) Existem mercados similares no México, na China, no Leste Europeu e, principalmente, na Ásia. Essas são os mercados promissores, já grandes e com potencial de crescimento.
3) O Brasil tem engenharia nacional forte e fornecedores instalados. Não dá para fazer o top em tecnologia, mas em tecnologia intermediária, que é competitiva para mercados emergentes.
A agenda do governo consistiria dos seguintes pontos:
Crédito do ICMS: hoje em dia, de longe, o maior problema na tomada de decisão de investimento das múlti. A lei garante o ressarcimento do ICMS pago ao longo da cadeia produtiva. Oitenta por cento não conseguem ser utilizados por falta de definição operacional.
O ex-secretário da Fazenda de São Paulo Eduardo Guardia conseguiu pensar uma alternativa inteligente -a Ford utilizar o crédito em investimentos em São Bernardo do Campo- e garantiu uma fábrica nova. Hoje em dia, esses créditos incobráveis representam de 5% a 6% dos custos da empresa, mais que a margem. Pior que o custo é a incerteza.
Acordos comerciais: o EcoSport só se tornou um sucesso por conta de dois acordos comerciais do Brasil com México e Argentina. Senão, as vendas externas seriam 30% menores. O acordo com o México foi fechado no final do governo Fernando Henrique Cardoso. De lá para cá, não saiu mais nenhum acordo comercial.

E-mail - Luisnassif@uol.com.br

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