Criminalidade e eleição
BRASÍLIA - É cedo para fazer juízo definitivo, mas o crime pode acabar sendo o assunto mais recorrente na eleição de outubro. Tanto a corrupção na política como a criminalidade mais, vamos dizer, ortodoxa, que foi exposta no fim de semana com as rebeliões em presídios paulistas.
Os levantes de bandidos devem retirar da agenda política todos os outros debates nos próximos dias ou semanas. A fatalidade será usada contra os tucanos em São Paulo.
O PSDB governa o Estado mais rico do país há 12 anos. Tempo suficiente para que tais rebeliões não sejam mais aceitáveis nem apareçam de surpresa. A justificativa das autoridades paulistas é quase um escárnio. Os presos estariam reagindo à linha-dura imposta pelo sistema local de isolamento de condenados. Se houvesse segregação de fato, a série de ataques teria sido impossível.
Em 2001, já havia ocorrido algo semelhante. Agora, motins ainda mais generalizados. Quantos anos são necessários para um determinado grupo político governar um Estado e ter capacidade de evitar reações orquestradas como as do fim de semana? Os tucanos terão dificuldade para responder a essa pergunta.
A sorte do PSDB é o fato de Lula ter pouco a dizer sobre o assunto. Os números do Orçamento da União são desfavoráveis ao petista. Em 2004, a administração federal investiu R$ 533 milhões na área da segurança pública. Em 2005, o valor caiu para R$ 475 milhões. Uma redução de 11%, segundo dados oficiais coletados pela ONG Contas Abertas, especializada em gastos governamentais.
O mais provável neste ano eleitoral é os políticos se renderem à tentação de se acusarem mutuamente pelo flagelo na segurança. Vão aparecer planos tão mirabolantes quanto ineficazes. FHC lançou um pacote com 124 medidas em 20 de junho de 2000 que custariam cerca de R$ 3 bilhões. A ação mais revolucionária era iluminar ruas escuras pelo país afora. Se pelo menos isso tivesse sido executado, já teria sido um grande avanço.
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