Entrevista:O Estado inteligente

domingo, maio 14, 2006

ELIANE CANTANHÊDE Desintegração

FOLHA

  BRASÍLIA - A idéia era consolidar o Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) e a CAN (os andinos Venezuela, Colômbia, Bolívia, Peru e Equador) para chegar à união de toda a região, sob o simpático nome de Casa -ou Comunidade Sul-Americana de Nações, abrangendo o Chile.
Mas o que se vê são todos disputando contra todos, com um eixo central: Hugo Chávez, movido a um expansionismo que chama de "bolivariano" e financiado a petróleo.
Chávez disparava contra os EUA, passou a investir contra a Colômbia, agora vira as baterias contra o Peru e não há um só diplomata brasileiro que duvide de que está por trás da guerra que o boliviano Evo Morales declarou contra o Brasil.
É assim que Chávez implode a CAN, ameaça o Mercosul e inviabiliza o sonho da Casa, deixando Lula, Celso Amorim e Marco Aurélio Garcia sem saber o que fazer e nem ao menos o que dizer.
Astuto, Chávez primeiro arvorou-se o grande amigo, abrindo as portas às empresas brasileiras. Depois, virou sócio do Mercosul, com apoio entusiasmado do Brasil. Agora, usa Evo Morales e a Bolívia para fazer o que ele próprio e a Venezuela não podem fazer: constranger o Brasil.
Se fossem Chávez, o guerreiro, e a Venezuela, rica e jorrando petróleo, dava para o governo brasileiro partir para o "porrete", como diz Amorim. Mas em sendo Morales, o cocaleiro, e a Bolívia, a pobrezinha, o Planalto fica no fio da navalha.
Para completar, há a disputa da Argentina com o Uruguai pela construção de fábricas na fronteira. E ninguém desconhece que Tabaré Vázquez não dá bola para o Mercosul e está louco para um bom acordo para a carne uruguaia nos EUA.
Aliás, a idéia era desconstruir a Alca e construir a Casa. A Alca ruiu, a Casa não subiu, é cada um por si. Quem deu de ombros à geopolítica e fez acordos pragmáticos com os americanos se deu bem. Deu o oposto do que se queria: a desintegração.
PS - Saio de férias. Até junho!

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