Brasil depende mais de exportações
O Brasil obteve em março superávit cambial de US$ 2,3 bilhões, que dependeu, mais do que em meses anteriores, do saldo comercial e de fatores novos, como o aumento do ingresso de capitais para a área imobiliária. Agora, com as importações crescendo mais do que as exportações, é provável que os saldos cambiais tendam à redução.
No primeiro trimestre, a queda do dólar afetou marginalmente o comércio: o superávit atingiu US$ 9,341 bilhões, ante US$ 8,305 bilhões em igual período do ano passado. Este saldo positivo não parece sustentável, pois o real valorizado já estimula as saídas de capital: as remessas de lucros e os dividendos superaram as expectativas e atingiram US$ 1,238 bilhão em março. As multinacionais instaladas no País auferiram grandes lucros e parte deles estão sendo enviados às matrizes. Estas empresas preferem reduzir os riscos cambiais num ano de tensões políticas.
Os devedores privados, que vinham quitando maciçamente suas dívidas externas, mudaram recentemente de política, passando a tomar mais recursos em moeda estrangeira, para aproveitar a queda dos juros e a diminuição do risco País. Já o aumento das saídas de recursos para o exterior passou a ser liderado pelo setor público, por exemplo, via liquidação dos bradies.
Em conseqüência, o superávit na conta corrente (que inclui comércio, serviços e rendas, inclusive juros e transferências unilaterais) declinou, entre os primeiros trimestres de 2005 e 2006, de US$ 2,661 bilhões para US$ 1,790 bilhão.
O superávit do conjunto das contas cambiais foi favorecido pelos investimentos em carteira, inclusive em títulos de renda fixa, por causa do juro real alto e da isenção do Imposto de Renda para investidores externos.
O resultado total do balanço de pagamentos ainda é bastante positivo, embora tenha declinado de US$ 10,394 bilhões para US$ 5,785 bilhões entre os primeiros trimestres do ano passado e deste ano.
Um dos destaques foi o expressivo crescimento do ingresso de investimentos estrangeiros de risco para aplicação no setor imobiliário. O montante desses recursos atingiu US$ 240 milhões (ou 6,2% do total do Investimento Estrangeiro Direto de US$ 3,877 bilhões) no primeiro trimestre, ante US$ 297 milhões em todo o ano passado.
Esses investimentos, observou o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, "estão sendo destinados às regiões turísticas, principalmente no litoral do Nordeste, em infra-estrutura hoteleira".
Além de atrair dólares no curto prazo, as aplicações em hotéis farão aumentar a receita do turismo no longo prazo, reduzindo, na margem, a dependência de alto superávit comercial.