PT? Que PT?
Para escapar da lama em que
chafurda o partido, petistas
fogem em debandada para o PSOL
Monica Weinberg
Montagem sobre fotos Rafael Neddermeyer-AE/Marcio Fernandes-AE/Ana Ottoni-Folha Imagem/Marcello Casal Jr.-ABR/Armando Favaro-AE e J. Freitas-ABR |
Dissidentes petistas (da esq. para a dir., mas só na foto): deputada federal Maninha, deputado Chico Alencar, Hélio Bicudo, deputados Ivan Valente e João Alfredo, Plínio Sampaio e deputado Orlando Fantazzini |
O PT assistiu, na semana passada, à maior debandada já registrada nos quadros do partido desde a sua fundação. Nos dias seguintes ao desligamento em massa de 400 de seus filiados, deixaram a sigla outros doze petistas – entre deputados estaduais, federais e militantes históricos, como o jurista Hélio Bicudo e o advogado Plínio de Arruda Sampaio. Com exceção de Bicudo e do deputado Miro Teixeira, foram todos para o PSOL. Sampaio, em artigo no jornal Folha de S.Paulo, justificou sua saída dizendo que o PT "rendeu-se ao neoliberalismo" e à política de "privilégios aos estrangeiros". O senador Cristovam Buarque, que havia desertado há duas semanas, seguiu a mesma linha. Disse que sua desfiliação do PT era "uma obrigação de quem escolheu 'ser esquerda na vida', como disse o poeta Drummond". Que Sampaio e Buarque não nutram mais afinidades ideológicas com o PT (ou com a poesia gauche), entende-se. O que causa espanto é o fato de só tomarem uma atitude em relação a isso agora. Afinal, o PT "rendeu-se ao neoliberalismo" há muito tempo – ou, pelo menos, desde que Lula e seu partido viram na rendição às regras do capitalismo uma chance de chegar ao poder. A debandada maciça de petistas neste momento, portanto, está longe de ser uma opção ideológica: é fruto, isso sim, do pragmatismo dos que não querem ser contaminados pela lama na qual a sigla chafurda hoje. "A ideologia é uma máscara. O que está em questão é a sobrevivência política de cada um", diz o sociólogo Leôncio Martins Rodrigues. Uma pesquisa do Ibope divulgada em julho mostrou que 81% dos entrevistados consideram a sigla igual ou pior que as demais agremiações. O fato de a debandada ter ocorrido às vésperas do encerramento do prazo legal para a mudança de partido – e a um ano das eleições – indica que esse cenário foi levado em conta pelos que ambicionam disputar uma vaga no próximo pleito.
Com as baixas da semana passada, o PT ficou com 83 deputados na Câmara e perdeu o posto de maior bancada para o PMDB, com 89 parlamentares. À exceção do governo Fernando Collor de Mello, eleito pelo inexpressivo PRN, é a primeira vez que, no regime democrático, o partido que elegeu o presidente da República deixa de ser o mais numeroso no Congresso. Na prática, isso significa que o PT precisará intensificar ainda mais sua política de atrair aliados à base de cargos e verbas. "Com uma base de apoio menor, a tendência é que o PT se torne um partido ainda mais fisiológico", diz o cientista político Rubens Figueiredo. Ou seja, por incrível que pareça, dá para piorar.