Entrevista:O Estado inteligente

sábado, outubro 01, 2005

CLÓVIS ROSSI O Portugal que não fomos

FOLHA DE S PAULO
 LISBOA - Parecia uma bênção o convite da Comissão Européia para um seminário sobre sua política comercial: chance de ouro para, pelo menos por alguns dias, pôr a um oceano de distância o "mensalão", o "mensalinho" e os "mensaleiros".
"Ledo e ivo" engano, como gosta de dizer o Cony. Não deu nem para sorver de novo o espanto pela impressionante transformação para melhor de Portugal desde a Revolução dos Cravos, há 31 anos (revoluções às vezes fazem um bem danado).
Bati logo com Francisco Sarsfield Cabral escrevendo no "Diário de Noticias": "Ainda não temos "mensalão" nem "mensalinho". Mas a cotação dos políticos não pára de descer em Portugal. (...) A classe política é hoje das menos consideradas classes profissionais em Portugal".
Em um só comentário, dois tiros: primeiro, nos políticos portugueses. Depois, no Brasil -"mensalão" e "mensalinho", coisas nossas, criam uma espécie de paradigma do mau comportamento político. Afinal, se a classe política portuguesa é "das menos consideradas", sem ter (ainda) "mensalão" ou "mensalinho", o que dizer da classe política tupiniquim?
Não fosse essa comparação, eu até enviaria o comentário do jornalista português para a penca de leitores que escreve todos os dias desanimada, pregando voto nulo ou ameaçando rasgar o título de eleitor.
Serviria de consolo saber que também em Portugal os políticos não são exatamente anjos? Não, se se olhar os estragos causados cá e aí por eles (e por nós, seus eleitores).
Portugal é um país razoavelmente homogêneo socialmente, como quase todos os da Europa Ocidental. O Brasil é obscenamente desigual.
Tanto que há um maciço fluxo de brasileiros que busca a esperança em Portugal, invertendo o sinal migratório de outras épocas.
Trinta anos depois da festa dos cravos por aqui, o Brasil não conseguiu nem remotamente ser "o imenso Portugal" então previsto por Chico Buarque de Holanda. Pena.

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