Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, outubro 14, 2005

LUÍS NASSIF A transposição, segundo Ciro

FSP
A intenção desta série de colunas sobre a transposição do São Francisco é mapear os principais pontos de discussão, levantar documentos e trabalhos (que estão chegando via e-mail), para chegar a algumas conclusões.
Hoje, a palavra é do ministro da Integração Regional, Ciro Gomes.
1) Disponibilidade de água - Segundo os críticos, o governo sofisma ao comparar a retirada firme de água do rio (26 m3 por segundo) com a vazão de 2.800 m3. Isso porque o Comitê de Bacia (que define o uso da água) teria reservado apenas 360 m3 para usos diversos -e a comparação deveria ser com esse número.
Ciro argumenta que esse cálculo vale para uma análise de reserva de valor da água. Do ponto de vista ecológico, vale a comparação com os 2.800 m3 médios ou, melhor ainda, com os 1.800 m3 de vazão mínima. Se todos os projetos previstos pelo Comitê de Bacia forem executados até 2025 (irrigação em Minas e Bahia, canais no sertão etc.), consumirão apenas 262 m3 dos 360 m3 planejados. Hoje em dia, do total disponibilizado, apenas 91 m3 são efetivamente utilizados.
2) Questão econômica - Originalmente, a obra seria para captar 180 m3 do rio. Caiu para 63 m3, ficou em 26 m3. Para um mesmo custo, há uma vazão muito menor, o que tornará o projeto economicamente mais oneroso. O argumento de Ciro é que o investimento será a fundo perdido, mesmo, como obra de integração regional. E que a operação será bancada pelos consumidores urbanos, que arcariam com um custo de R$ 0,11 o m3, contra um custo da Sabesp -segundo ele- de mais de R$ 1. Faltam mais dados de avaliação custo-benefício à luz dessas mudanças.
3) Ameaças à produção de energia da Chesf - Ciro informa que o projeto será inteiramente administrado pela Chesf, por meio de uma subsidiária, a Chesf Água, para vender água no atacado. Depois, cada Estado criará sua própria empresa estadual para distribuir a água.
4) Integração de bacias - Alguns críticos sustentam que, se somar a água de todos os açudes do Ceará, vai se chegar a 15 bilhões de m3. Divididos pela população de 7 milhões de habitantes, haveria um per capita de 2.000 m3/ano, mais que suficiente para garantir a auto-suficiência do Estado pelo manejo das suas próprias reservas. Ciro rebate o argumento. Os açudes são obras defensivas, diz ele. Precisam necessariamente ser mantidos cheios, para prevenir os períodos de seca. Atualmente, a única fonte de abastecimento dos açudes são chuvas, que em média deixam 760 mm, quando chove regularmente. Com essa insegurança, o mero fato de mantê-los cheios, por política de precaução, provoca uma evaporação de 2.000 mm/ano. Com a transposição, o sistema será integrado. Não haveria mais a necessidade de manter os açudes cheios porque haveria a garantia da água do São Francisco. Aí as águas dos açudes poderiam ser integralmente utilizadas de tal forma que, para cada litro bombeado do São Francisco, haveria a disponibilidade de mais meio litro de água dos açudes locais.
A discussão continua.

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