Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, outubro 14, 2005

ELIANE CANTANHÊDE A lama vira pó

FSP
 BRASÍLIA - As ácidas declarações do sempre doce ministro Luiz Dulci, de que a oposição faz "denúncias vazias" e FHC adota uma "linha antidemocrática", não são por acaso. Fazem parte da estratégia do governo. Uma estratégia de guerra.
O que anima os seus autores, como Jaques Wagner, Dulci e o próprio Lula, é o fato de as CPIs estarem minguando, as denúncias, se esgotando, e as pesquisas, reagindo. Conclusão: acham que o governo sobreviveu e se recupera bem. Agora, é partir para o enfrentamento político. Da crise direto para o palanque.
Wagner foi um bom achado num governo cujo "capitão do time" só dava bola fora, e a ocupação do campo está funcionando. Aldo Rebelo na Câmara, Renan Calheiros no Senado, Nelson Jobim no Supremo.
Nos bastidores, o governo tenta mostrar a tucanos e pefelistas que, se o PT tem culpas, PSDB e PFL têm lá as suas, começando pelo envolvimento de Eduardo Azeredo no esquema Marcos Valério. E indaga, provocativo: é para continuar as investigações ou parar por aí?
À luz do Sol, a intenção é repisar a versão de que Lula é vítima e está "botando o país a limpo". Os milhões, as cuecas, o Land Rover e as suspeitas de Santo André não passam de um "golpe da elite tucano-pefelista em conluio com a imprensa burguesa". Quase "intriga da oposição" contra um governo que "salvou a economia" e dá o Bolsa-Família. O apagão da aftosa? Deixa isso prá lá.
A artilharia saía das denúncias e sigilos quebrados pelas CPIs, mas o Planalto espera que o governo e o PT, pós-eleições internas, voltem ao melhor estilo petista de ser: de acusados a acusadores. Há quem diga, com sarcasmo: "A oposição deveria ter pedido o impeachment enquanto era tempo. Agora, que agüente firme".
Na estratégia, é fundamental vender que os crimes e as denúncias são, ou eram, só parte de uma guerra política ("urucubaca"), sem prova nem consistência. A lama vira pó. E lá vamos nós para 2006.

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