Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, outubro 13, 2005

ELIANE CANTANHÊDE Tudo em família

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 BRASÍLIA - Lula ficava lá, numa boa, fazendo suas viagens e seus discursos, enquanto amigos providenciavam um contrato camarada (bota camarada nisso!) para seu filho, o irmão Vavá abria escritório em São Bernardo para facilitar canais de empresários com Brasília e a família convidava os amigos para desfrutar dos prazeres do poder.
José Dirceu tinha sala ali ao lado do gabinete presidencial. Seu braço direito era Valdomiro Diniz, sua agenda incluía Marcos Valério, Delúbio Soares e Silvio Pereira, e ele dava a maior força para o pimpolho, Zeca Dirceu, agora prefeito no Paraná.
Nada disso é obrigatoriamente crime, mas tudo combina com a personalidade do governo. O carro oficial para a cadelinha ir ao Torto, a estrela vermelha do PT no Alvorada, a avidez em tomar de assalto a direção do Banco do Brasil, do IRB, dos Correios, dos cargos nos Estados.
A turma veio para ficar e se sentiu em casa. Deitou de sapato no sofá da sala, invadiu o quarto do casal, assaltou a geladeira e estourou o champanhe. Faltou experiência, faltou humildade e faltou a necessária cerimônia para exercer o poder. Daí a um ganhar Land Rover, outro comprar terras, o terceiro levar um pacote de dinheiro vivo para casa foi um passo. Imagine o que diria o velho PT se o presidente não fosse Lula e se o governo fosse outro, qualquer outro?!
Ricardo Berzoini, que parece um cara sério, cheio de boas intenções, passou apertado por uma eleição com milhares de eleitores petistas país afora e é o novo presidente do PT. Mas o pior vem agora. Cabe a ele conduzir um processo que Tarso Genro chama de "refundação". Significa recuperar idéias, discursos, práticas e a autoconfiança do partido.
Além de ensinar o mais elementar: partido é partido, governo é governo; público é público, privado é privado. Os principais alunos têm de ser Lula e Dirceu -que, aliás, saiu do cargo e pode perder o mandato, mas não perde a pose. Nem o controle do PT.

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