Entrevista:O Estado inteligente

domingo, outubro 02, 2005

ELIANE CANTANHÊDE Ninguém é de ninguém

FOLHA DE S PAULO
BRASÍLIA -
Foto 1: o ex-guerrilheiro Fernando Gabeira (ex-PT, atual PV) pede a cassação de Severino Cavalcanti de braços dados com líderes do ex-comunista PPS, do PDT, do PSDB, do PFL e da UDR, símbolo da direita.
Foto 2: o comunista Aldo Rebelo se elege presidente da Câmara com o PT, o PSB e parte do PDT ao lado de metade do PMDB e mais o PL, o PP e o PTB -além do próprio Severino.
As duas revelam as alianças da esquerda e da direita com igual intensidade, apesar dos métodos diferentes. Governos têm "instrumentos", oposição tem lábia.
Gabeira já escandalizou uns e instigou outros, duas décadas atrás, ao voltar de longo exílio político com uma sunga roxa, mínima e de crochê. Agora escandaliza uns e instiga outros ao apontar o dedo na cara do presidente da Câmara dentro do plenário e, no momento seguinte, unir-se ao pefelista Aleluia e ao ruralista Ronaldo Caiado para a renovação.
Além de vanguarda, Gabeira é didático. Disse mais com a sunga roxa e diz mais com a foto corajosa de suas alianças do que mil palavras. Abaixo o preconceito, viva a diversidade (inclusive ideológica), tudo pelo avanço.
Foi assim que o verde Gabeira e o ex-comunista Roberto Freire votaram no pefelista Nonô para presidente da Câmara. E o Planalto ficou com parte da esquerda, com parte da direita e com os que votam com Lula hoje como votaram com FHC ontem e votariam com Maluf se estivesse lá.
A esquerda não é só pura, a direita não é impura por definição. Há uma direita ideológica, não fisiológica. E o governo Lula nos ensinou que há uma esquerda fisiológica, não ideológica. O corte é outro.
Ficou evidente na votação de Aldo e de Nonô que a disputa não é entre esquerda e direita, mas entre oposição e governo, rigorosamente meio a meio. Ninguém tem hegemonia, e ninguém é de ninguém. O desafio da nova esquerda é aliar-se com a direita por objetivos. Em vez de comprar quem topa se vender.

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