Entrevista:O Estado inteligente

domingo, outubro 02, 2005

CLÓVIS ROSSI Assalto ao capitalismo

FOLHA DE S PAULO
 SÃO PAULO - Seria irônico, não fosse trágico. O comunismo construiu um muro (o de Berlim) para evitar que o pessoal da Alemanha Oriental cedesse ao nada discreto charme do capitalismo. Não funcionou.
Agora, é o capitalismo que constrói muros para evitar a invasão dos deserdados e desesperançados, em especial da África e da América Latina.
Nesta semana, no encrave espanhol de Ceuta, na fronteira com o Marrocos, deu-se o que a mídia européia batizou de "assalto".
O Brasil deu pouca atenção ao drama: os candidatos ao sonho europeu jogaram-se em massa contra a cerca que separa Ceuta do Marrocos. Cinco mortos, dezenas de feridos, necessidade de o Exército espanhol intervir para controlar a situação.
Os novos muros funcionarão ou acabarão tendo o mesmo destino de seu similar comunista?
Que o capitalismo ganhou de goleada do comunismo é óbvio. O jogo agora é outro: trata-se de saber se todos, ou pelo menos a grande maioria, pode jogá-lo -ou uma parte substancial continuará, como hoje, condenada à marginalidade, em todos os sentidos da palavra.
É esse o debate da hora. José Vidal-Beneyto, colunista do espanhol "El País", escreveu ontem que "uma das grandes linhas divisórias entre países e formações políticas" é precisamente "o antagonismo que existe na Europa entre, por uma parte, o liberalismo econômico como a via mais segura para promover o crescimento e criar riqueza, e a necessidade e urgência, por outra, de assentar o modelo social europeu".
Concretamente: manter ao mesmo tempo "níveis aceitáveis de emprego, eficácia na atenção sanitária, nas aposentadorias e, em geral, um grau aceitável de bem-estar" sem "agravar o déficit público e reduzindo o endividamento dos Estados".
No sempre atrasado Brasil, essa discussão mal começou, pois o assalto é de outra natureza ("mensalões", "mensalinhos" e "mensaleiros").

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