Entrevista:O Estado inteligente

domingo, outubro 02, 2005

EDITORIAL DE O GLOBO Acerto nas CPIs




As comissões parlamentares de inquérito, principalmente dos Correios e do Mensalão, encontram-se num momento delicado — aquele em que se esgotaram os depoimentos mais importantes e o andamento das investigações depende de um trabalho interno de inteligência, de decodificação de uma montanha de informações vindas das quebras de sigilos bancário, fiscal e telefônico.

Há, por isso, uma certa sensação de frustração com as CPIs, principalmente quando se pergunta sobre as fontes de alimentação do propinoduto petista do esquema valeriodelubiano.

Mas essa idéia de que as CPIs fracassaram é equivocada. Apenas ajuda a quem procura escapar das punições com a cantilena de que "não há provas do mensalão".

Ora, o que não faltam são provas de que dinheiro escuso passou pelas agências de Marcos Valério e foi distribuído, sob a gerência de Delúbio Soares e outros, entre políticos petistas e da base aliada. Seja isso chamado de mensalão ou de dinheiro "não contabilizado", trata-se de crime. E quem, com mandato no Congresso, de alguma maneira participou do esquema — beneficiando-se e/ou administrando o propinoduto — feriu de maneira grave o decoro parlamentar. Logo, tem de ser indicado para cassação. Simples assim.

Os pessimistas com as CPIs precisam se lembrar:

Que nem mesmo o vice-presidente da República, José Alencar, acredita nos tais empréstimos de R$ 50 milhões alegadamente levantados por Valério nos bancos do propinoduto, o BMG e o Rural. A descoberta de que esses créditos não constavam dos livros fiscais da agência reforça a incredulidade;

Que o próprio marqueteiro-mor petista (ex-malufista) Duda Mendonça confessou, e provou com documentos, ter recebido pelos seus préstimos ao PT por uma conta num paraíso fiscal caribenho, o que confirma a montagem pelo partido, em sociedade com o publicitário, financista e traficante de influência Marcos Valério, de um superesquema de manejo de dinheiro sujo, ilegal;

Que o fluxo de recursos pelas empresas de Marcos Valério supera em muitos cifrões o giro normal de agências de publicidade;

Que os saques feitos por políticos ou emissários na agência do Banco Rural em Brasília são provas contundentes;

Que os Correios comprovadamente foram infiltrados de esquemas de corrupção montados pelo PT e aliados (entre eles destaca-se o PTB de Roberto Jefferson);

Que o caso da Interbrazil, seguradora inoculada no IRB por meio do lobby de Ademar Palocci, irmão do ministro da Fazenda, é emblemático de todo esse megaescândalo. Pois uma seguradora criada do nada utilizou-se do trânsito fácil na máquina pública para levantar recursos de forma criminosa e financiar campanhas petistas em Goiás.

É certo que as CPIs ainda têm de amarrar algumas pontas, quebrar certos sigilos, avançar em pontos obscuros. Mas não se tenha dúvidas que há o que mostrar no final das investigações. A não ser que manobras políticas impeçam.

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