Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, outubro 05, 2005

EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO DÚVIDAS NA TRANSPOSIÇÃO

 O Ibama deve conceder nesta semana a licença que autoriza o início das obras de transposição do rio São Francisco. Segundo o Ministério da Integração Nacional, trata-se da única pendência para que possa ter início a maior obra do governo, de custo estimado em R$ 4,5 bilhões.
A versão oficial sustenta que a transposição beneficiará 12 milhões de pessoas. Por meio de um sistema de 700 km de canais, as águas chegariam a quatro Estados atingidos pelas secas -Paraíba, Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte.
O objetivo de levar água ao semi-árido é louvável. Mas, diante do alto custo e da carência de recursos para outros setores prioritários, é preciso que não haja dúvidas sobre a relevância do projeto. E muitos pontos continuam na obscuridade.
Em primeiro lugar, a proposta não visa resolver o problema. A região atingida pela seca abrange 750.000 quilômetros quadrados -infinitamente mais do que as obras serão capazes de contemplar. O que o projeto pretende é perenizar alguns rios, manter o estoque de açudes e permitir que as populações da região disponham de água para consumo.
Também não está claro como será feita a gestão de um sistema que requer níveis altíssimos de organização e capacitação de pessoal: são nove estações para o bombeamento por eletricidade da água a uma altura de 160 metros num dos canais e de 500 metros no outro. Os problemas de logística se agravam quando se tem em conta que, até o fim do atual governo, no máximo 30% das obras estarão concluídas.
Faltam, por fim, esclarecimentos a respeito do impacto sobre a produção de energia. A alteração no nível das águas pode afetar a produção nas hidrelétricas da região, o que seria um evidente contrasenso.
Ninguém deseja que se perpetuem as privações causadas pela seca no Nordeste. Mas uma obra faraônica inconclusa ou inócua -com prejuízo de bilhões de reais para o país- é também um perigo a evitar.

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