Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, outubro 05, 2005

EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO LULA E AS CPIs

 Preocupam os sinais de que forças se rearticulam para minar as apurações do grande esquema de obtenção de recursos ilícitos e pagamentos ilegais de parlamentares que funcionou no governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
O presidente já se sente à vontade para retomar a tese persecutória do início da crise. Bem entendido o discurso de Lula de anteontem na Fiesp, tudo se resumiria a uma onda de "denuncismo". Fez questão de ignorar que o esquema de pagamento ilegal de parlamentares, coordenado pelo PT, a líderes da base aliada -beneficiando diretamente o seu governo, portanto- está comprovado.
Tampouco se preocupou em refletir sobre os desdobramentos da crise no PT -que derrubou o presidente, o tesoureiro e o secretário-geral- e em seu governo -o ministro da Casa Civil teve de deixar o posto seguindo "conselho" público de Roberto Jefferson. A queda de ocupantes de altos postos em Furnas, nos Correios, no IRB e no Banco do Brasil também foi esquecida por Lula.
Causa estranhamento também o palpite presidencial, no discurso da Fiesp, de que as CPIs estariam encontrando "muitas dificuldades" de apurar a "concretude das denúncias". Diz isso justo quando as comissões vão derrubando a explicação de que o dinheiro do "valerioduto" seria originário de empréstimos bancários; quando se fortalecem as hipóteses de conexões com contas no exterior, aplicações dos fundos de pensão e doações de empresas "maquiadas" de prestação de serviços.
Ressalte-se a tempestiva entrada em cena do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para cobrar resultados das CPIs, pressionando e oferecendo recursos para que encerrem seus trabalhos neste ano. Calheiros foi um dos principais artífices da vitória governista na eleição para a presidência da Câmara.
O momento é crítico para a apuração de perguntas fundamentais do esquema criminoso, como a origem do dinheiro. As CPIs precisam, mais que nunca, demonstrar seriedade e capacidade técnica e de articulação para manter o respaldo da opinião pública contra as forças que sempre desejaram que as comissões nem sequer houvessem sido instauradas.

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