Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, outubro 05, 2005

CLÓVIS ROSSI Desculpas

FOLHA DE S PAULO
BRUXELAS - O governo Lula é tão especialista em bater cabeça que o presidente consegue a proeza de bater cabeça com ele próprio.
Vejamos a mais recente fala de Lula, a de segunda-feira na Fiesp. Segundo o presidente, o país vive hoje uma situação "em que as denúncias aparecem e depois não se concretizam, e fica o dito pelo não dito. E não existe pedido de desculpas, não existe reparação, não".
Como não, presidente? O senhor não ouviu, por acaso, o pedido de desculpas feito exatamente por Luiz Inácio Lula da Silva? Está certo que foi um pedido tão envergonhado que talvez até o seu autor não tenha ouvido direito. Mas que pediu, pediu.
Se pediu e se se disse traído, então é igualmente bater cabeça (e eu estou sendo bastante elegante) afirmar que "as denúncias aparecem e depois não se concretizam, e fica o dito pelo não dito".
Como não se concretizam se o presidente foi traído por íntimos que fizeram "muita sujeira", no dizer de Ciro Gomes, ministro de confiança do presidente, em palanque na presença do próprio Lula?
Como não se concretizam se a espinha dorsal do partido de Lula foi decapitada, todinha, todinha, pela comprovada prática do que um petista ilustre, sério, como Paul Singer, chamou de "delinqüências"?
Vai ver que o que explica a amnésia do presidente é o fato de que ele deu de ombros para o caixa dois, crime já confessado por muitos de seus amigos, naquela famosa entrevista de Paris em que disse que era prática sistemática (mas que ele não mandou apurar).
Agora, vem o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, dizer que caixa dois é coisa de bandido. Se é assim, como aliás é mesmo, e se é prática sistemática entre os partidos políticos, como acha Lula, então deveriam ir todos para a cadeia, como diz Thomaz Bastos. Mas, por enquanto, estão todos soltos, talvez porque esse governo bate cabeça dia sim, outro também.

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