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Colaborou Danielle Chaves
Essa atitude tem um nome. É o Gerenciamento de Doenças, conceito desenvolvido nos Estados Unidos, que começa a chegar ao Brasil. Até agora, a maioria das administradoras não se ocupou em conhecer seus pacientes. Por isso, vai se surpreendendo com a explosão das despesas com tratamentos a que tem de dar cobertura.
O perfil da saúde dos brasileiros mudou. No início do século 20, as doenças mais comuns eram as infectocontagiosas, como a pneumonia e a malária. Hoje prevalecem as doenças crônicas, como hipertensão, diabetes e doenças cardiovasculares. Um dos motivos da mudança é o maior tempo de vida: a clientela está ficando mais velha e mais propensa a doença de velho.
O coordenador do MBA em Gestão de Saúde do Ibmec São Paulo, Carlos Alberto Suslik, explica que o primeiro passo da implantação do sistema é confiar a um médico o acompanhamento do tratamento do paciente. É o médico de referência, que faz o primeiro atendimento e, conforme o caso, encaminha o doente para o especialista. O sistema exige comunicação direta entre médico e paciente, por meio de e-mails ou telefonemas, para lembrá-lo de tomar o remédio na dose certa, da nova consulta ou, simplesmente, para acompanhar seu estado de saúde.
Suslik observa que pessoas com mais de uma doença crônica (co-morbidade) chegam a consultar 13 médicos. "O aumento dos custos é exponencial." É o que o médico de referência tende a evitar. O professor admite que o Gerenciamento de Doenças aumenta despesas iniciais da operadora, mas o resultado compensa. Estudos feitos nos Estados Unidos indicam que a redução futura de despesas chega a 30% sobre o investimento feito.
A Agência Nacional de Saúde (ANS) incentiva programas de Promoção à Saúde e Prevenção de Doenças. As operadoras que adotam esse procedimento têm prazo maior para formar a provisão de riscos, que são as reservas de que precisam para garantir cobertura de despesas futuras. Alfredo Cardoso, diretor de Normas e Habilitação de Operadoras, está entre os que recomendam conhecimento prévio da carteira de associados para reduzir despesas: "Em casos de diabetes ou de cardiopatias a redução de custos da carteira pode chegar a 40%."
O Gestão de Saúde Amil, do Grupo Amil (1,4 milhão de beneficiários) adotou o plano no início deste ano, mas tem antecedentes desde 2001 – como o plano de acompanhamento de saúde cardiovascular. Mas a experiência esbarra com problemas de mentalidade. "Nossa maior dificuldade é motivar o paciente, porque ele tende a pular de um médico para outro sem aceitar nenhum programa de combate à doença", reconhece o diretor-técnico do grupo, Antônio Jorge Kropf.
A seguradora Bradesco Saúde (2,6 milhões de beneficiários) não tem um programa assim, mas já trata de conhecer melhor seus associados. Há seis anos dedica-se à implantação de um sistema de informações gerenciais que permite a obtenção de dados sobre os custos por faixa etária e por região, as doenças mais comuns, etc. "Não há opção. Quem não investir nessas informações não vai sobreviver", avalia Heráclito de Brito Júnior, diretor-geral da Bradesco Saúde.
O associado está inseguro com o futuro do seu plano de saúde e, mais cedo ou mais tarde, vai rejeitar a operadora que não aceitar mudanças e não tiver uma administração racional de sua carteira.