Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, junho 01, 2005

Dora Kramer:Olho vivo e faro fino

  Se há tempo hábil e disposição suficientes para a recuperação, só o tempo dirá, mas o Governo ontem começou a dar os primeiros sinais vitais de sã consciência desde o início dessa mais recente crise política, já com duas semanas completas de duração.

Seus líderes deram uma folga às armas de ataque, ocuparam uns após os outros as tribunas do Parlamento para ressaltar ações positivas da administração federal e, nos bastidores, começaram a admitir a hipótese de o Palácio do Planalto abandonar o tom de guerra santa na tentativa de barrar a CPI dos Correios e optar por uma convivência civilizada – não obstante controlada pelo peso da maioria – com o inevitável.

"O PT está na defensiva e, nessa posição, nunca vi ninguém ganhar um jogo", diz um destacado líder governista integrante da tropa dos moderados que defende suas idéias sob anonimato, "para não criar mais confusão", pelo menos até elas prevalecerem como orientação oficial.

A definição da linha de atuação seria dada pelo presidente Luiz Inácio da Silva depois de uma série de conversas com líderes e ministros entre ontem à noite e, no máximo, amanhã.

Apesar da ordem unida aos aliados para tentarem liquidar a fatura na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, aprovando a inconstitucionalidade da CPI, nem os mais otimistas acreditavam no sucesso desse resultado.

O mais provável, apostavam os moderados, é a CCJ aprovar a comissão com uma agenda restrita às investigações nos Correios e em nenhuma repartição pública mais.

Na prática é uma providência inútil, porque o que surgir no decorrer da apuração não poderá ser deixado de lado deliberadamente só porque o assunto não consta da agenda original.

Diante da quase impossibilidade de se evitar a CPI, há um grupo dentro do Governo que já há algum tempo é contra as ações abertas e desesperadas para impedir o funcionamento da oposição, porque o custo é alto e o benefício, nenhum.

Até agora, porém, essa ala perdeu para a outra, que acha melhor impedir a CPI sem pensar nos custos do que correr o risco de ser surpreendido por fatos desagradáveis.

Ocorre que o desgaste da operação-abafa-que- não-consegue-abafar-coisa-alguma só aumenta, culminando ontem com a pesquisa CNT/Sensus mostrando 86% de apoio popular à realização da CPI.

Diante disso, cresceu a impressão dentro do Governo de que o risco do sangramento de imagem em praça pública pode chegar a um ponto sem retorno.

Há séria preocupação com o destino das bancadas do PT no Legislativo porque o partido é em sua grande maioria sustentado pelo eleitorado de opinião. Petista dificilmente tem – diferentemente de muitos de seus recentes parceiros – votos de cabresto.

Deputados e senadores em geral são oriundos de movimentos organizados e informados. Nesses setores, a questão ética tem um peso crucial. Daí a reação violenta dos senadores petistas contra o gesto de Eduardo Suplicy de assinar sozinho o requerimento de apoio à CPI.

Suplicy ficou com a boa causa, faturou a imagem de herói da resistência e, ao restante da bancada, coube receber reprimendas dos eleitores pessoalmente, por e-mail, cartas e telefonemas. Aos milhares, por sinal.

Bob, mui amigo

O deputado Roberto Jefferson talvez não saiba, mas o senador Ney Suassuna não vai aceitar calado a pecha de intermediador de chantagistas.

Afinal, foi nessa posição que o presidente do PTB o colocou quando, em discurso na Câmara há duas semanas, disse ter sido alvo de tentativa de chantagem por parte de um ex-oficial da Marinha conhecido como "Molina", que recebeu em seu gabinete a pedido de Suassuna.

"É mentira, o rapaz é amigo dele de infância, o chama de Bob. Aliás, é uma pessoa de bem que vai processar o deputado e provar que não é chantagista coisa alguma".

Como o senador Suassuna reclamou de referência feita a ele aqui no sábado passado, baseada exatamente naquele relato feito por Roberto Jefferson, natural, pois, perguntar a ele por que não dirigia seus reclamos ao deputado.

"Vou fazer isso na hora certa", informou. Sobre a razão que levou o presidente do PTB a envolvê-lo assim no caso, a simular desconhecer um "amigo de infância" e ainda acusar esse amigo de um crime, o líder do PMDB não tem convicção firmada.

"Não sei, acho que ele pode ter confundido as pessoas, no caso do Molina. No meu caso, pode ser que por algum motivo tenha pretendido envolver o PMDB na história, mas também não sei direito".

Da vida dos outros, o senador diz que não cuida. Só não quer é ficar parecendo "vigarista", como considera ter sido retratado no artigo de sábado passado.

Santa de casa

Eleitores da deputada Denise Frossard concordam com a idéia defendida por ela ontem, de que os políticos devem dar mais atenção à vontade do eleitor do que aos acordos e alianças partidárias. Mas, ponderam, gostariam de ter sido consultados de alguma maneira quando ela decidiu mudar de partido no meio do mandato, saindo do PSDB para o PPS.
o dia

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