O Estado de S. Paulo - 02/05/2010
Uma semana repleta de novidades. Notícias boas e ruins. No Brasil, o BC aumentou o juro básico para conter a inflação. Nos Estados Unidos, o PIB cresceu 3,2% no primeiro trimestre. Isso mostra que o país está saindo da crise, mas em passos ainda hesitantes. No trimestre anterior, o último de 2009, o PIB teve alta de 5,6%. Essa é a razão pela qual o Fed, banco central americano, reunido nos mesmos dias que o Copom, decidiu manter o juro em 0%. E vai ficar assim por algum tempo. O crescimento não se sustenta. Na verdade, são negativos, descontada a inflação. Juro baixo lá, alto aqui.
Por que? Nos EUA, a economia cresce em torno de 3%, no Brasil, mais de 6%. Lá, a inflação é de 2,3%, ou seja, menos 0,4% nos últimos meses, e aqui ameaça passar de 5% . A recuperação americana continua se devendo à reposição dos estoques nas indústrias, mesmo com um aumento de 3,6% no consumo, no trimestre, após mais de um ano de estagnação. Aqui, o consumo nos dois primeiro meses foi de 11,3% sobre o mesmo período do ano anterior e continua aumentando a cada mês.
Comparação errada porque 2009 foi ruim? Não. Primeiro, porque o consumo não parou de aumentar mesmo naquele momento, impulsionado pelos estímulos do governo, ao contrário do que ocorreu no resto do mundo. Segundo, em 12 meses, o consumo das famílias brasileiras aumentou nada menos que 6,9%. O consumo vem crescendo com a renda há mais de 6 anos. Finalmente, o desemprego, que está em 9,7% nos EUA, no Brasil é de 7,4%. E continua caindo.
O drama do euro. A notícia ruim, mesmo com uma falsa cara de boa, vem da Europa. Continua a novelesca discussão sobre como salvar a Grécia, o euro e a União Europeia. Quanto mais demorar, pior, disse o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn. E nesses meses de hesitações, piorou muito. Agora, a Grécia precisa de US$ 170 bilhões! O dobro do que se previa antes. Dinheiro do FMI e dos países da UE. Não há dinheiro disponível para a Grécia. Quando ele lhe empresta é só a curtíssimo prazo e a juros extorsivos. E os investidores estão se retraindo na Grécia, Espanha, Itália, Portugal, Irlanda e euro também.
O fundo diz que pode ajudar, sim, mas precisa do acordo dos governos europeus. Em seu último pronunciamento, Strauss-Kahn não escondeu a irritação, quase indignação, com os líderes europeus. Ora, o que estão esperando? Deu ele a entender quando o FMI pintou com tintas negras o cenário da eurozona nos próximos meses. A resposta é, estão esperando a Alemanha que sempre adia e nunca vem. O New York Times e o Economist criticam severamente a chanceler Angela Merkel. Ela acha que o problema é dos gregos, quando não é, diz a revista. É dos 27 países da União Europeia.
Ora, o governo grego forjou dados para entrar na União Europeia, em 1981, e mentiu mais ainda quando foi aceito na Eurozona, em 2001. E quem denunciou não foi nenhum país, não. Foi o primeiro-ministro, Geroge Papandreou, logo após assumir o governo em outubro de 2009.
Acordo? Anunciou-se no fim da sexta-feira mais um acordo com o FMI e a UE. A Grécia promete cortar gastos, economizar US$ 32 bilhões e aceita se afundar na recessão. "É a sobrevivência", diz o pobre Papandreou. Novidade? Não. A notícia se repete a cada fim de semana. Agora vai? Se depender da Alemanha, tudo será empurrado até o próximo dia 9, depois das eleições regionais na Westphalia. Enquanto isso, a Europa treme.
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