FÁBIO ZANINI
DE JOHANNESBURGO
É manjada a estratégia de políticos tentarem pegar carona na imagem santificada de Nelson Mandela. Tony Blair e Bill Clinton eram fãs assumidos nos anos 90. Iasser Arafat e Muammar Gaddafi, em busca de um verniz pacifista na imagem, sempre apregoaram uma relação especial com o ícone antiapartheid.
O presidente Lula também entrou na onda, sempre que lhe foi conveniente. Na campanha presidencial de 1994, exibiu à exaustão imagens de um encontro de petistas com um Mandela sorridente.
Em 1998, candidato sem chances, tentou de novo grudar nele, durante uma visita do sul-africano ao Brasil. Mas naquele ano ele só teve tempo para Fernando Henrique Cardoso.
Agora é a vez de Dilma. A equipe de comunicação do PT fez um malabarismo para encaixar, de uma forma meio torta, a trajetória de Mandela na biografia da candidata. O sul-africano, com 92 anos, é hoje um conhecido símbolo do pacifismo e da reconciliação, mas já foi um guerrilheiro atuante no passado.
Em 1961, Mandela fundou o Umkhonto we Sizwe, ou Lança da Nação, braço do Congresso Nacional Africano. Organizou cursos de guerrilha, traçou planos militares ambiciosos (jamais atingidos) e plantou bombas em instalações ligadas ao governo do apartheid.
A Clinton, Blair, Lula e todos os outros que adularam Mandela, convém associar-se à imagem mais conhecida dele, o líder que passou 27 anos preso e saiu disposto a perdoar.
Lula também lutou contra uma ditadura, também foi preso (durante apenas alguns dias, é verdade) e também chegou, de maneira improvável, à Presidência de seu país.
Para Dilma, mandelizar-se é mais difícil. Não há paralelos óbvios na biografia da petista com o Mandela da paz. Restou o Mandela da guerra. Uma maneira nova de tentar pegar emprestado um pouco da aura do personagem.
O irônico é que existe, sim, uma semelhança entre a vida do sul-africano e a da pré-candidata brasileira. Mandela, como guerrilheiro, foi um fracasso. O grupo por ele fundado nunca foi ameaça concreta ao governo.
Da mesma forma, as organizações armadas a que Dilma pertenceu foram neutralizadas pelo regime militar brasileiro. Mas essa analogia, talvez a mais honesta de todas, dificilmente será usada pelos marqueteiros petistas
Entrevista:O Estado inteligente
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sábado, maio 15, 2010
É velha a estratégia de pegar carona em imagem de pacifista
Folha de S Paulo
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