GABRIEL TARDE (1843-1904), sociólogo francês, pai da microssociologia
(e da micropolítica), viu suas ideias serem atropeladas pelas escolas
estruturalistas, como as de Marx, Durkheim, Weber etc., que
prevaleceram no século 20. Sua obra capital foi "Les Lois de
l'Imitation" (1890), texto fundamental para entender a lógica da
internet 110 anos depois.
Em "Leis da Imitação", Tarde analisa o processo de formação de opinião
a partir das relações entre os indivíduos. Nos termos de hoje: os
meios de comunicação, sistemas de publicidade, vocalizadores etc...
distribuem informações, que são filtradas pelos indivíduos. Para
assumi-las como opinião sua, o indivíduo as testa com alguém em cuja
opinião confia.
Na medida em que haja coincidência, ele afirma a informação como
opinião e a repassa. Esse processo ocorre em pontos infinitos, que vão
formando fluxos de opinamento. Alguns são linhas tênues, que
desfalecem. Outros fluxos se ampliam e vão avançando com diversas
intensidades viróticas.
Para Tarde, há três tipos de indivíduos: os "loucos", que iniciam
fluxos de opinamento; os "tímidos" ou "sonâmbulos", que são
repassadores de fluxos, ou imitadores, na expressão de Tarde; os
"tolos", ou "descrentes", que pouco repassam os fluxos recebidos.
Para Tarde, a imitação difunde-se em ondas concêntricas. Por esse
processo se formam as instituições e a opinião pública. Se um grupo
social afirma ideias, outros podem repassá-las por "imitação". Olhando
para os meios de comunicação de hoje, que são os mais importantes
distribuidores de informação, estes obedecem à lógica da audiência,
pois esta define suas rentabilidade e competitividade.
Estrito senso, os meios de comunicação não formam opinião, mas
reforçam opinião formada. Mas, como estão inseridos socialmente, por
sensibilidade, estudos ou pesquisas, dão conta de fluxos de opinamento
em formação sustentada.
Quando propagam esses fluxos, aceleram enormemente a velocidade de
transformação deles em opinião pública. Fluxos que constituiriam
opinião pública em, por exemplo, dois anos, podem ser acelerados pela
TV e formar opinião em duas horas, como ocorre algumas vezes.
A lógica da internet e de suas redes é essa, agregada à diversidade
informacional de hoje. "Louco" é quem cria um fluxo e vê sua repetição
às centenas e aos milhares nas redes, no YouTube...
"Tímidos" são os mais importantes para os iniciadores e estimuladores
de fluxos (políticos entre estes).
São os "tímidos" que garantirão aos fluxos os múltiplos acessos e a
aceleração na formação de opinião -e o voto. Um processo muito mais
complexo e difícil que na TV dos anos 70/80.
Entrevista:O Estado inteligente
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sábado, maio 15, 2010
Gabriel Tarde César Maia
Folha de S. Paulo - 15/05/2010
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