Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, maio 27, 2010

Distorções Merval Pereira

O GLOBO
A eleição presidencial que definirá a sucessão do presidente Lula está polarizada de tal jeito entre os candidatos do PT e do PSDB que as negociações políticas estão ocorrendo de cima para baixo. As regionais obedecem mais que nunca à lógica nacional, com imposições de alianças muitas vezes traumáticas, como a do Maranhão, onde o PT está obrigando seus aliados históricos a apoiar Roseana Sarney, do PMDB. Ou a de Minas, onde o PT resiste a abrir mão da candidatura a governador para o PMDB.

Em estados em que o lulismo é hegemônico, como nos do Nordeste ou no Pará e no Amazonas, mesmo as dissidências locais se acomodam, enquanto a oposição mede palavras para ter chances na eleição.

Caso raro é o do senador Jarbas Vasconcellos, dissidente do PMDB, que vai para o sacrifício em Pernambuco para dar um palanque ao candidato José Serra mesmo tendo chances quase nulas de vitória.

A tendência de haver uma definição já no primeiro turno é cada vez mais acentuada, e uma das razões mais perversas é o controle dos dois partidos tanto do tempo de propaganda eleitoral quanto do financiamento das campanhas.

O risco de caminharmos para uma plutocracia, onde o dinheiro desequilibre as campanhas eleitorais, já não é mais neutralizado pelo já existente financiamento público, cujo principal item é a propaganda partidária pelo rádio e pela televisão.

A candidata do Partido Verde, Marina Silva, terá poucos minutos de propaganda eleitoral e só recebe tratamento igual ao dos candidatos de PT e PSDB por sua luz própria.

Um bom exemplo disso foram as pressões do Palácio do Planalto para inviabilizar alianças do PDT e do PCdoB com o PSB, que dariam tempo de televisão para a candidatura do deputado federal Ciro Gomes.

Tratada como uma operação de guerra, a campanha presidencial exibe uma opulência consentida e estimulada pelos grandes partidos, que concentram entre si os recursos de financiamentos privados e agora também tentam ampliar as alianças partidárias para dominar o maior tempo possível da propaganda eleitoral gratuita.

O uso da propaganda de rádio e televisão está tão distorcido que as alianças estão sendo fechadas com vistas ao tempo que cada partido tem, ficando longe as considerações programáticas.

O PTB de Roberto Jefferson aderiu oficialmente à candidatura tucana, e veio junto com sua má-fama política quase um minuto de televisão, e mais o direito ao programa anual de dez minutos que será exibido já este mês, sob a coordenação da equipe de marketing da candidatura de Serra.

Assim como no PMDB, onde algumas bases regionais apoiam Serra, alguns estados, como a Alagoas do senador Fernando Collor, apoiam a candidatura oficial de Dilma Rousseff, mas o que vale é o que a direção nacional decide.

Anteriormente aderira ao tucano o PSC, entregando mais alguns segundos de televisão.

Mas nesse pacote há o risco de vir o provável candidato ao governo do Distrito Federal Joaquim Roriz, a matriz de todos os escândalos que estão sendo revelados na capital.

Também o tempo de propaganda do PP está na alça de mira, sendo disputado tanto pelo PT quanto pelo PSDB.

Quando a certeza da vitória da candidata oficial era maior, a adesão do PP era considerada pule de dez.

A permanência do candidato oposicionista na frente das pesquisas eleitorais e, sobretudo, a possibilidade de seu presidente, o senador Francisco Dornelles, vir a ser o escolhido para vice de Serra, fez o PP mudar de posição, ficando entre a neutralidade e a adesão ao PSDB.

Hoje, com os dois candidatos empatados, mas com Dilma crescendo, o PP analisa a possibilidade de sair da neutralidade para voltar a fazer parte da base governista.

Mas ainda aguarda os desdobramentos da negociação do PSDB com Aécio Neves, embora, depois da atuação de Dornelles na alteração do texto do projeto Ficha Limpa, seja difícil que ele ainda venha a ser indicado vice na chapa tucana.

Por ora, a coligação de Serra dispõe de cinco legendas: PSDB, DEM, PPS, PSC e o PTB, com cerca de sete minutos de televisão, se somarmos aos tempos de cada partido o dos partidos sem candidato, que será dividido igualmente entre todos os candidatos.

A candidatura oficial é apoiada por uma coligação de PT-PMDB-PSB-PDT-PCdoB-PR e PRB e por isso terá um tempo de televisão maior, por volta de 11 minutos.

Toda essa mistura de letras, sem nenhum suporte ideológico ou programático, prepara uma crise institucional mais adiante, esteja quem estiver no governo.

A campanha eleitoral brasileira está baseada justamente no tempo de propaganda gratuita. Será durante o período eleitoral que os candidatos mostrarão seus programas aos eleitores.

Mas, antes disso, na chamada pré-campanha, os programas anuais de dez minutos e as inserções durante a programação são fundamentais para mexer nos números das pesquisas, como tivemos recentemente prova cabal com a subida da candidata oficial depois de ter sido ancorada ilegalmente pelo presidente Lula no programa partidário do PT.

O PSDB já esperava, e temia, esse pior cenário, no período entre maio e junho, quando foram apresentados os programas de televisão da maioria dos partidos que apoiam o governo.

Os programas do PSDB e de seus aliados DEM e PPS e agora PTB serão os últimos a serem transmitidos, próximo das convenções partidárias, no fim de junho, e a mesma dose de ilegalidade está sendo preparada, para tentar recuperar a vantagem perdida ou, pelo menos, neutralizar o crescimento de Dilma.

A campanha presidencial deste ano, possivelmente devido ao equilíbrio da disputa, está demonstrando que uma futura reforma política não pode deixar de rever essa legislação eleitoral.

Na coluna de ontem, troquei 1998 por 2006 na frase Em 1994, Fernando Henrique venceu por cerca de três milhões de votos, diferença que caiu para dois milhões em 2006

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