Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, maio 20, 2010

Com a crise, corrida ao dólar Alberto Tamer


O Estado de S. Paulo - 20/05/2010
 

Como não há qualquer sinal de solução para a crise europeia, os investidores internacionais estão correndo para o dólar. Até a China, que aumentou suas compras de títulos do Tesouro americano. Mais US$ 17 bilhões em março, elevando para US$ 859 bilhões suas reservas nesses papéis. E isso apesar do baixo rendimento do títulos do Tesouro, que estão sendo jogados no mercado para financiar a divida dos EUA. Os países asiáticos seguem no mesmo rumo.

É uma reversão de tendências. Em fevereiro eles estavam vendendo e não comprando ativos financeiros americanos. A própria China havia vendido US$11,6 bilhões.

Não há duvida alguma que essa virada se deve em grande parte ao agravamento da crise europeia, sem vistas para acabar, com a desvalorização do euro e a valorização do dólar, que esteve em queda nos primeiros meses do ano. O dólar se retraia com dúvidas sobre os déficits e as contas fiscais americanas, o que era bom para os EUA, que exportavam mais e ruim para seus parceiros comerciais. Agora, parece que tudo mudou.

É a estagnação europeia. Há dois outros fatores preponderantes: a estagnação não só na zona do euro, mas em toda a União Europeia e a reação da economia americana. Ela está crescendo a uma taxa anualizada de 3,2% e as previsões anteriores, de um PIB de 2,8% este ano saltaram para 3,7%. Até o Fed está mais otimista. A inflação recuou na ultima semana e a construção de imóveis novos aumentou 5,8%. Não há como comparar aplicações em euros e em títulos dos governos da Eurolândia com o os investimentos em dólares.

Certamente, não são sinais persuasivos, podem não se confirmar nos próximos meses, mas, de qualquer forma, seja qual for o desempenho da economia americana, ela será muito melhor que a europeia e a japonesa.

Continuam investindo. Os estrangeiros continuam investindo nos EUA; sua participação na divida aumentou em 3.5%. Ou seja, eles detém agora ativos da ordem de US$ 3,8 trilhões. Dívida não só do governo mas de empresas americanas também. Não deixa de ser sintomático que todos queiram agora investir em papéis que rendem as menores taxas do mundo, mas tem maior lastro e são mais seguros em termos patrimoniais e na moeda que oferece maior segurança.

Por que não aqui? O Brasil está entre os quatro maiores detentores de títulos do Tesouro americano US$ 164,4 bilhões, em março, após China, Japão e Grã-Bretanha. Mas o real continua registrando uma das maiores valorizações em relação ao dólar, mesmo com alguma altas nos últimos dias. Há uma explicação, diríamos doméstica. O BC está preferindo aumentar as reservas, que beiram US$ 250 bilhões, para enfrentar uma nova crise que alguns analistas já preveem. Em outras palavras, o BC prefere ter mais dólares em reservas líquidas.

O Brasil vive uma situação singular. Em meio e depois do choque, continua recebendo investimentos diretos e financeiros externos. O saldo cambial no primeiro trimestre foi de US$ 2,7 bilhões. São dólares que entram e precisam sair do mercado para evitar valorização maior do real com enorme efeito sobre as exportações.

Mesmo assim, elas ainda fraquejam, não se reanimam, mas pode-se avaliar o que estaria acontecendo sem as compras do Banco Central. Vimos isso no passado.

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