OS GOVERNOS da Europa promovem uma campanha de "bombardeios cirúrgicos" contra partes do mercado financeiro. Atiram bombas que os americanos dispararam quando tentavam evitar a quebradeira de bancos, antes e depois de setembro de 2008, quando faliu o Lehman Brothers. A Europa procura evitar o dominó bancário e a quebra de governos.
A bomba mais recente caiu ontem, depois do fechamento dos mercados europeus. Como nenhum bombardeio é cirúrgico, houve danos colaterais no mercado daqui, no americano e nos negócios globais com o euro. Hoje tem mais.
O órgão regulador das finanças da Alemanha proibiu que investidores "especulem" de modo a elevar os juros pagos pelos governos, a encarecer seguros de crédito e a derrubar o preço dos papéis ações de certas instituições financeiras.
Segundo o regulador alemão, a "especulação" causa "mudanças excessivas de preços" e "ameaça a estabilidade de todo o sistema financeiro" (não usam a palavra "especulação". Isso é "coisa de políticos").
Note-se que o grosso da "especulação" ocorre em Londres. Logo, se "especulação" havia, continuará a haver. De resto, quem não tem colírio usa óculos escuros. Quem não pode "especular" com os títulos em tese protegidos pelos alemães "especula" com o euro, por exemplo, que se desvalorizou ainda mais.
Qual a "especulação"? Gente com dinheiro grosso vende papéis de que não dispõe apostando que, quando tiver de acertar o negócio, no futuro, comprará tais papéis por um preço inferior àquele da venda de hoje.
Quanto mais o mercado vende, mais cai o preço do papel em questão.
Grosso modo, é esse o negócio: venda a descoberto de títulos no mercado futuro. O mercado também compra seguro contra dívida da qual não é credor, o que eleva o custo de fazer seguro de dívidas. Tudo isso eleva o custo do crédito na Europa.
O "mercado" diz que está apenas dando o preço para uma coisa que perde valor -a dívida de alguns governos europeus e os papéis de bancos enganchados nesses papagaios. Apostam no que acham que vai acontecer. Ou seja, que governos europeus, sob desconfiança dos credores, pagariam juros cada vez maiores (seus papéis valeriam menos, pois) ou mesmo quebrariam.
Os governos dizem que o mercado se aproveita do medo a fim de causar pânico e ganhar dinheiro com isso.
Provavelmente, governo e mercado estão cada um com parte da razão.
O EUA proibiram algumas vendas a descoberto antes do grande colapso de setembro de 2008. Fez efeito no curto prazo e, depois, baubau. O preço das ações de gigantes da finança americana foi parar no lixo. Estavam mesmo quebrados.
Há outras bombas. A União Europeia está para aprovar restrições a negócios de grandes fundos de investimento. Houve o pacote para a crise da dívida. Isto é, crédito para a Grécia, um fundo de garantia para a dívida de outros países e, na prática, o Banco Central Europeu ora financia governos que não conseguem rolar seus papagaios.
Mas os "mercados" por ora acham que a crise da dívida europeia foi apenas remediada. Que o caldo entornará adiante. Logo, antecipam a crise. Que não para.