NÃO É EMOTIVO PARA GRAÇA mas, ao contrário, para preocupação a
estranha mudança no temperamento do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, que não está dizendo coisa com coisa, como uma biruta aloprada
que aponta para todos os lados, com a leviandade de quem carrega o
peso do cargo, com suas obrigações e responsabilidades no período de
pré-campanha, por ele antecipada ao expor a sua candidata, Dilma
Rousseff, ao constrangimento das críticas da oposição e da imprensa.
Ficou difícil acompanhá-lo no ziguezague das contradições.
Uma no cravo outra na ferradura. Ou no óbvio, como o dispensável
conselho acaciano sobre a encruada escolha do vice da candidata que
retirou do bolso do colete, que não usa: "O melhor vice é quem se der
bem com a Dilma. Vice é como casamento.
O Temer é um bom nome". Ora, a escolha do deputado Michel Temer,
presidente da Câmara e do PMDB, está sacramentada desde o começo do
ano. E dispensa o carimbo do presidente no contrato firmado e
registrado no cartório da evidência. Sem o apoio do PMDB a candidatura
de Dilma não existiria.
Adiante. O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), supõe-se
que como porta-voz do presidente Lula, afirmou que a prioridade para o
governo é a votação dos projetos do pré-sal e não o da Ficha Limpa,
que veta candidaturas de políticos com a condenação de um colegiado da
Justiça. Trata-se, segundo o líder do governo, de um projeto que é da
sociedade, mobilizada para conseguir mais de 1,7 milhão de
assinaturas.
Mas Lula passou o recado ou apenas o palpite de que apenas o condenado
em todas as instâncias será impedido de disputar um mandato. Em que
ficamos? Por enquanto no ar, balançando no trapézio da confusão. Em
cautelosa precaução, o senador Arthur Virgílio (AM), líder do PSDB,
sustenta que a prioridade da votação da proposta do Ficha Limpa é
absoluta, pois, além da evidência da sua urgência e oportunidade,
trata-se de um projeto de iniciativa popular. A aragem que sopra em
Brasília chegou ao gabinete da juíza Gislaine Carneiro Campos Reis, da
8ª Vara da Fazenda Pública, que condenou o notório ex-governador do
Distrito Federal Joaquim Roriz (PSC) e a sua vice Maria de Lourdes
Abadia por improbidade administrativa.
No caso, reincidentes.
E saiu barato para a dupla. A Justiça fisgou o ex-governador por ter
aceitado carona no helicóptero oficial em maio de 2006 (é lenta a
Justiça na capital e em todo o país) quando a vice Maria de Lourdes
havia assumido o cargo. E, como a Viúva além de cega é perdulária, o
ex-governador Roriz e a governadora em exercício voaram durante seis
dias no helicóptero para levar a dupla a eventos sociais. Ao fim do
dia, o ex-governador Joaquim Roriz era deixado de helicóptero em sua
residência, em Brasília, ou em sua fazenda em Luziânia, Goiás.
Antes de embarcar para o Irã, em mais uma viagem internacional da sua
agenda de um dos líderes mais populares do mundo, o presidente Lula
deixou como tema para distração do público um cacho de declarações que
batem cabeça no xadrez das contradições. No encontro com os
companheiros do Grito de Terra 2010, que reúne pequenos agricultores
ligados à Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura
(Contag), com a voz no tom emocionado, o presidente anunciou que após
deixar o cargo, em 1º de janeiro de 2011, percorrerá o país "fazendo
política". E, na forma do costume, uma alfinetada no antecessor, FHC:
"Não vou dar pitaco no novo governo, porque eu quero que eles digam
que nunca um ex-presidente na história deste país foi tão
ex-presidente".
Como de boas intenções o inferno está cheio, as do presidente Lula
duraram menos que uma rosa. Na entrevista ao SBT, Lula voltou ao
natural. E bateu firme: "É uma constatação de fato. Porque essa gente
que vive com o nariz torto tentou destruir este país. Eu gostaria de
ser economista. Acho chique. Eles sabem tanto número! E quando é
oposição sabem mais ainda. O Serra agora está sabendo tudo que não
sabia quando estava no governo".
No galeio para saltar a contradição reafirmou que quando deixar o
governo não dará palpite sobre a administração de quem o substituir.
Palavras, o vento leva...
O presidente deixou declarações a bater no xadrez das contradições