Entrevista:O Estado inteligente

sábado, junho 07, 2008

Villas-Bôas Corrêa - O preço do açodamento

Apesar do deslumbramento que ilumina o seu rosto com o foco da publicidade e o tempero do prestígio ampliado com o seu status de candidata ostensiva do presidente Lula para substituí-lo no Palácio do Planalto, a ministra Dilma Rousseff é a menos culpada pelo clamoroso erro tático do seu poderoso padrinho, ao virtualmente lançá-la com açodada antecipação na fogueira das ambições de petistas e aliados.

Lula anda com pressa, que parece angustiá-lo a cada dia que se aproxima o fim do seu mandato bisado, com a tranqueira fechada por ele próprio da aventura do terceiro mandato. A especulação sobre o adiamento do seu sonho para o distante 2014, que pode espichar o prazo para 2018 com a reeleição do seu sucessor e é um fantasma que se intromete nos seus sonhos, seja dormindo ou acordado.

Depois de críticas da oposição nas tribunas da Câmara e do Senado, com repercussão nos jornais, revistas e noticiários da TV e transmissão ao vivo pelas emissoras das duas Casas, Lula comunicou à platéia que suspendeu visitas aos lançamentos e às obras do Programa de Aceleração do Desenvolvimento (PAC) para "não ser acusado de estar fazendo campanha". Como os raios solares passam pelas brechas da peneira, a desculpa não vinga, mas tem desdobramentos políticos. E como é difícil juntar dois proveitos no mesmo saco, o corte da campanha com todas as facilidades e mordomias do Aerolula, dos palanques montados pelas lideranças locais com microfone para os muitos improvisos de cada dia, misturam lucros e perdas.

O lançamento da candidatura de Dilma Rousseff não trouxe novidade, mas provocou o impacto do fato consumado. Ora, a chefe da Casa Civil, sem papas na língua não é de fácil convivência. E para os exibidos ou os enrustidos aspirantes a candidato no abagunçado acampamento do PT – recordista nacional de escândalos que continuam pipocando em fluxo sem fim – é uma candidatura difícil de engolir, que fica entalada no gogó. Sem tradição partidária, com registro recente de filiação, divide a platéia entre os que aderem a tudo que o Lula mandar e os que cultivam as suas ambições: todo petista, seja no sereno do esquecimento ou no ar refrigerado dos milhares de contemplados no rateio das melhores fatias do bolo do governo continua sonhando com o poder e mira nos mais altos degraus da escada da mordomias.

Com a correção da rota do presidente, Dilma também sairá do palco. A dissimulação não é simples: a ministra está no centro da fogueira. E dá a impressão que trocou de mal com a sorte. Nas denúncias de trapaças oficiais, com ou sem as CPIs que não dão em nada, Dilma é citada por testemunhas, passando pelo duplo constrangimento de depor, responder a perguntas e da exposição na mídia.

Nem bem parece encerrada a sua provação na CPI dos Cartões (cá para nós, como se gasta e furta o dinheiro da viúva, na fuzarca das mordomias parlamentares ou nas facilidades dos altos escalões do Executivo) e estoura a denúncia na Comissão de Infra-Estrutura do Senado, da ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Denise Abreu, que envolve Dilma na suposta negociação da venda da Varig e da VarigLog.

O governo mobiliza-se para blindar a ministra e evitar a convocação de mais uma Comissão Parlamentar de Inquérito. É sempre mais uma pedra no sapato.

E, se não se pode falar em crise, é irrecusável que o governo não desfruta de boa fase num mundo conturbado por calamidades ambientais, como as irrupções de vulcões na China, inundações na Austrália, nos Estados Unidos e em Estados do Brasil.

Um teste em que o governo foi reprovado. Não bastasse o desmatamento na Amazônia e o debochado descaso de governos estaduais, cúmplices notórios da derrubada para a criação de gado ou plantações de soja, a tardia reação do governo não cruzou a linha das promessas, dos planos e da troca de farpas entre autoridades desavindas.

O governo escorregou para uma fase de duplicidade, que intercala a continuidade de bons resultados com a seqüência de denúncias de erros preocupantes. E leva a ministra-candidata no arrastão.

Um chá de sumiço viria a calhar. Mas não é simples estancar a sangria com a veia aberta.

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