Entrevista:O Estado inteligente

sábado, junho 07, 2008

Primeira-dama: apelo em Bérgamo




-Vitor Hugo Soares blog do Noblat 7/6

O barulho causado em Roma pelo presidente Lula, em sua cruzada mundial na defesa dos biocombustíveis contra os ataques de ímpios e infiéis, tirou o foco esta semana de relevante noticiário incidental: o da visita de dona Marisa Letícia à Bérgamo e Palazzago, cidades da Lombardia - região de partida da imigração para o Brasil do bisavô e outros antepassados familiares da primeira-dama. O roteiro deveria ser cumprido com "máxima discrição", por recomendação de Brasília, mas não foi bem assim.
 
Além de festa ruidosa, o prefeito de Bérgamo e o presidente do conselho da Província guardavam outra surpresa: uma carta com pedido de interferência da ilustre visitante para esclarecer a morte de Nicholas Pignataro, em Alagoas. O corpo do Italiano, 20 anos, crivado de balas, foi encontrado em terreno baldio de Barra de São Miguel, cercanias da Praia do Francês, badalado paraíso de turistas europeus no Nordeste. O caso é acompanhado com interesse e amplos espaços na imprensa italiana.
 
Nicholas foi enterrado em vala comum do cemitério de São Miguel, sem identificação, ao lado do corpo de um jovem vendedor de DVDs e CDs piratas. Crescem suspeitas e interrogações deste caso de polícia, que a partir desta semana ganhou  também conotações política e diplomática.

Ainda com o presidente Lula e a primeira-dama na Itália, autoridades do governo entraram no circuito Roma-Brasília para acompanhar as investigações  e adotar providências relacionadas ao "estranho caso de desaparecimento e morte do rapaz de Bérgamo", como qualificam diários do porte do Corriere della Sera e La Repubblica.
 
O interesse cresceu também na imprensa nordestina, depois dos fortes ruídos produzidos pelo documento entregue a Dona Marisa, quando o caso parecia marchar celeremente para o esquecimento e a impunidade. O cônsul da Itália em Recife se deslocou para Maceió, para tomar providências quanto ao traslado do corpo, além de seguir as investigações mais de perto.
 
Ainda assim, segue o bate-cabeça de dúvidas e informações desencontradas, desde que o corpo de Pignattaro foi achado na "fossa comune"  , como descreve um jornal romano. Na mesma vala, o cadáver do jovem vendedor de praia, sugestivamente identificado como "Pixote" nos registros policiais.
 
Exumado, e finalmente identificado, o corpo do italiano foi encaminhado para o Instituto Médico Legal de Recife, de onde deverá seguir, depois de concluídos todos os trâmites periciais e burocráticos, para sepultamento em sua região de nascimento. Um coquetel de suspeitas sobre as causas é servido à farta: prostituição, tráfico de drogas, execução policial em queima de arquivo...
 
...Até a hipótese de crime passional, com envolvimento da amiga brasileira em cuja casa Nicholas estava hospedado, na fantástica praia alagoana, a cerca de 35km do local onde o corpo foi encontrado. Suspeita que a família do rapaz não só recusa, mas contesta com veemência.
 
O jovem saiu da casa no dia 17 de maio, e não mais foi visto com vida. O cônsul Maximiliano Lagi diz: "Nicholas estava de férias no Brasil e, em certo ponto, fez amizade com um vendedor ambulante de DVDs e CDs". Tatiana Oliveira, a amiga em cuja casa o rapaz italiano estava hospedado desde março, garante que durante todo esse tempo, jamais viu Nicholas usar drogas.
 
Dois dias depois do desaparecimento , ela acionou a polícia com autorização da família do rapaz na Itália, percorreu prontos-socorros e hospitais, participou das buscas e reconheceu o corpo , ao ver uma fotografia no IML de Maceió. "O italiano estava no lugar errado, na hora errada", simplificam agentes policiais em declarações publicadas nos jornais alagoanos.
 
O diário italiano "La Repubblica" não vê a história de forma tão óbvia e simplificada. Prefere levantar questões que ainda aguardam respostas. Por exemplo: a polícia brasileira diz que o italiano não portava nenhum documento quando o corpo foi encontrado em terreno baldio do litoral alagoano.
 
"No entanto, deveria parecer estranho e levantar suspeitas um rapaz branco, bem vestido, de trato europeu, achado morto em uma zona de periferia onde vivem principalmente negros. Em um país civilizado se faz indagações, que, neste caso, não foram feitas", pondera o advogado da família Pignataro, em entrevista ao influente jornal italiano.
 
Daí a carta entregue a dona Marisa, e os apelos na  viagem sentimental às cidades dos antepassados da primeira-dama . As interrogações em torno da morte do italiano Nicholas e seu amigo brasileiro, Pixote, talvez recebam, finalmente, respostas convincentes e verdadeiras.

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