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O Globo |
6/6/2008 |
O governador Aécio Neves disse que a aliança com o PT de Minas para ter um único candidato à prefeitura de Belo Horizonte será feita, seja ela formal ou informal. Negou que isso seja parte de seu plano de ser presidente. "Não morro se não for presidente." Aécio afirmou que o governo Lula está perdendo o melhor momento da história contemporânea para fazer as reformas de que o Brasil precisa. Em entrevista que me concedeu ontem no Palácio das Mangabeiras para o "Espaço aberto", da Globonews, Aécio Neves falou de candidatura presidencial, reformas, política externa, Bolsa Família e contou por quem bate seu coração na disputa presidencial americana: - Bate por Obama. Gostaria de ver a mão negra assinando os tratados que influenciarão o mundo. A força do novo é muito grande num negro, de origem muçulmana, presidindo os Estados Unidos. Isso é tão vigoroso, tão novo, que eu gostaria de estar vivo para ver. Aécio chegou para a entrevista de calça jeans e sem gravata, diretamente de um encontro com produtores rurais de Minas. Ele deu apoio à proposta do ministro Carlos Minc de incluir a Mata Atlântica na medida que nega crédito ao produtor que não cumprir as exigências ambientais. Disse que, entre Minc e o governador Blairo Maggi, concorda com o ministro. Sobre a polêmica aliança em Minas, na qual o governador do PSDB e o prefeito de BH, Fernando Pimentel, do PT, apóiam a mesma chapa, Aécio garante que ela não é parte de qualquer projeto pessoal: - Estamos tentando construir algo novo, em que vaidade e projeto pessoal ficam no plano secundário. Já tenho com o Pimentel uma parceria administrativa. Diminuímos em 30% crimes violentos, fizemos obras viárias, trabalhamos juntos saúde e educação. Queremos continuar. Perguntei se a reação da executiva nacional não era temor de que isso faça parte do seu projeto de concorrer à Presidência. - Não tenho essa dimensão toda que o PT me atribui; deram uma dimensão nacional a essa eleição local e deram visibilidade ao candidato, o que é ótimo. Cabe ao PT explicar por que não aceita esta aliança, se é por causa do governador. PSDB e PT estão juntos em mais de 300 cidades; o veto é explícito a esta aliança. Eles estão vendo fantasmas, eu não devia estar assustando tanto os petistas. Além do mais, o PT sempre disse que ouve as bases; 85% da militância disseram que querem essa parceria. Ele não diz, nem nega, que vá realmente se candidatar. - Ninguém é candidato porque decidiu ser. É uma precondição, mas solitariamente não é suficiente. Meu projeto é continuar o governo. A grande contribuição que a minha geração de homens públicos está dando é criar mecanismos de qualidade de gestão. Sempre fomos condescendentes com as ineficiências do setor público. Agora o país quer resultados. Eu não morro se não for candidato a presidente. Se as circunstâncias em torno de um projeto para o país forem construídas e eu for o nome que represente esse projeto, serei. Não falta ao Brasil candidato a presidente, o que falta é um projeto. Aécio garante que o PSDB tem projeto: - Temos um projeto mais afirmativo, que passa por modernização da economia e reformas. O presidente Lula tem uma oportunidade criada por três fatores: situação internacional de crescimento, conjuntura macroeconômica sólida no país, ampla base de apoio e popularidade. Tudo isso teria permitido fazer a reforma política; a reforma da Previdência, que é um gargalo a ser enfrentado. A tributária já foi abandonada. Segundo ele, a reforma tributária não irá para a frente se o governo não comandar o processo de votação; removendo os vetos regionais. - O presidencialismo no Brasil é quase monárquico; a força do Executivo é extraordinária. Ou o governo assume a direção dessa reforma, contrariando interesses e resolvendo contenciosos, ou ela vira carta de intenções. Temo que o governo esteja como Pilatos, lavando as mãos após mandar a reforma para o Congresso só para dizer que o Congresso não quis aprovar. Aécio vê a proposta da CSS como um atropelo à própria reforma. Admite que grande parte disso é responsabilidade do próprio presidente. - O presidente cumpre um papel transformador, mas a perspectiva de voltar ao poder em 2014 talvez o esteja levando a evitar contrariar interesses; e assim adiando reformas como a da Previdência. O governador de Minas faz críticas à atual política externa. Para ele, em algumas questões, como os biocombustíveis, a posição está certa, mas há um viés ideológico em favor de governos que "têm desrespeitado certos preceitos da democracia". Citou Hugo Chávez como o caso mais emblemático. - Com a força do Brasil, ele poderia ter uma posição mais firme de condenação de certas práticas, como a do fechamento da emissora de TV que criticava Chávez. A respeito da decisão desta semana do Banco Central de subir os juros, disse que não gostaria que acontecesse, porém, neste momento, é uma medida de cautela. - É mais cômodo defender que os juros caiam, mas o BC tem acertado. Pela trajetória do Banco Central, eu respeito essa decisão Afirmou que qualquer governo que vier manterá o Bolsa Família. No entanto, segundo ele, se for um governo do PSDB, o programa virá com uma porta de saída. |
Entrevista:O Estado inteligente
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