As primárias do Partido Democrata foram uma demonstração de vigor invejável da democracia americana. A disputa mobilizou os jovens de forma entusiástica, levou 35 milhões de pessoas a votar e fez História. Agora, os democratas têm, diante de si, outros desafios: unificar o partido fraturado com tanta disputa; conquistar o eleitor americano superando a mais dolorosa divisão do país: a racial.
Hillary Clinton é fundamental para Barack Obama.
Olhando o mapa americano, o que se vê exatamente, naqueles estados que eles chamam de swing states — onde Bill Clinton venceu em 1996, mas John Kerry perdeu em 2004 —, é que, em pelo menos em 12 deles, a senadora Hillary teve incontestável maioria dos votos. Nesses estados, Obama precisa dela.
(Veja o gráfico no blog.) O jornalista americano Mac Margolis, da “Newsweek”, acha que Obama, que ganhou no Sul, com uma avassaladora votação dos negros, e ao oeste do Rio Mississippi, com o apoio de jovens e mais ricos, precisa da força de Hillary para atrair eleitores nas regiões onde brancos e trabalhadores votaram nela.
Durante a campanha, algumas questões foram explicitadas: os democratas continuam fortemente protecionistas.
Ofensa era acusá-los de serem “a favor” de acordos de livre comércio. Obama votou contra o acordo com a Colômbia e não foi à votação do acordo com o Peru. Ambos criticaram o Nafta. A nova Lei Agrícola, com um aumento do subsídio à produção, teve o voto de Obama.
Os Estados Unidos estão vivendo em ambiente recessivo; a crise imobiliária ainda não acabou, secou a fonte de renda extra através das renegociações das hipotecas, o desemprego aumentou e a inflação está subindo. Isso será um trunfo de Barack Obama, mas também intensifica o discurso protecionista.
McCain tentará a missão impossível de fazer uma campanha republicana se afastando do presidente republicano impopular. No discurso que fez na terça-feira, ele rebateu a expressão “política Bush-McCain”, usada por Obama. Essa tentativa de se afastar do presidente da República do mesmo partido raramente é bem-sucedida.
Al Gore tentou ser o candidato dos democratas se afastando de Bill Clinton. José Serra tentou evitar o apoio de Fernando Henrique em 2002.
O eleitor não é bobo e sabe que situação não pode ser oposição a si mesma.
Obama começou a corrida quase como um estranho dentro do partido. Hillary contava com a maioria dos votos dos superdelegados, era a favorita nas pesquisas.
O resultado mostra que os superdelegados não pertenciam a nenhum dos dois e reagiram ao sabor da campanha.
Ele acertou no tom e no discurso de mudança, trazendo para a arena política quem andava afastado, os jovens.
Usou, com desenvoltura, ferramentas da moderna comunicação na mobilização dos jovens. Um dos exemplos: pela internet, pessoas do mundo inteiro foram convidadas a participar do concurso do vídeo de campanha “Obama em 30 segundos”.
Participaram, acompanharam e votaram na escolha em torno de cinco milhões de pessoas. Quanto disso vira voto mesmo? Os jovens americanos, empolgados com a primeira vitória, devem permanecer ao lado de Obama.
A questão racial continuará sendo uma grande dúvida da sua campanha, mas ele deu um passo importante durante o desconforto criado pelas desastradas declarações do ex-pastor da sua exigreja.
Obama, que inicialmente tentava contornar a delicada questão para não ser estigmatizado como candidato étnico, acabou tendo que falar frontalmente sobre as divisões raciais para propor a superação delas. No histórico discurso da Filadélfia, buscou em William Faulkner a frase símbolo “o passado não está morto e enterrado.
Na verdade, ele nem é passado”, para lembrar que as desigualdades entre negros e brancos persistem.
Muita coisa mudou. Quando os pais de Obama se casaram, em 1960, uma união como aquela, entre uma branca e um negro, era ilegal na maioria dos estados americanos.
Hoje ele é o candidato do Partido Democrata e, entre seus apoiadores, há milhões de brancos. A vida melhorou para o afro-americano nas últimas décadas. A renda familiar média dos negros subiu de US$ 22.300 (em dólares de 2006) em 1967 para US$ 32.100 em 2006. A expectativa de vida foi de 35 anos para 73 anos. A redução da distância entre negros e brancos continua sendo um desafio, mas o esforço, que vai do movimento pelos direitos civis ao equal opportunity rights (direitos de oportunidades iguais, que gerou inúmeras políticas públicas e corporativas), permitiu a formação da forte classe média negra.
Os afro-americanos votaram maciçamente em Obama.
Agora, ele sabe da necessidade do passo seguinte: “Todos somos americanos, primeiro.
Divididos por falsas divisões, unidos pelos mesmos princípios e sonhos”, disse ele em discurso.
Esta é a forma de atrair quem o rejeita hoje pelo velho e persistente racismo: lembrar o sonho americano e enriquecê-lo.
No discurso de terça-feira, Obama também não deixou ambigüidades quando se declarou contra a guerra do Iraque, dizendo que é uma guerra que não devia ter sido declarada, não devia ter sido lutada e deve acabar.
McCain, herói de guerra no Vietnã, vai usar contra ele o medo americano de que, se não lutarem contra os países inimigos da pátria americana, a “América” sofrerá ataques em seu território. Será uma campanha e tanto.
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COM DÉBORA THOMÉ
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