Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, junho 05, 2008

Dora Kramer Trapaça na veia

Não se pode dizer que a CPI dos Cartões Corporativos tenha frustrado expectativas. Ninguém esperava coisa alguma de uma comissão de inquérito marcada por acordos nebulosos e muita mentira, tanto por parte do governo como da oposição.

Mas o desfecho, depois de três meses de pura embromação, acabou superando qualquer prognóstico. Nem os mais dantescos chegaram perto do que seria o relatório final lido pelo deputado Luiz Sérgio na última terça-feira e a ser votado hoje na sessão conclusiva da CPI.

À falta de uma boa história para livrar o governo Luiz Inácio da Silva de explicar por que as despesas com cartões corporativos cresceram 129% de 2006 para 2007 e por que só 11% dos gastos no ano passado foram postos sob a luz da transparência, o deputado simplesmente distorceu os fatos e considerou altamente suspeitas as contas de cinco ministros do governo anterior.

Já os ministros de Lula flagrados no exercício dos abusos que deram origem ao escândalo e à própria CPI, na versão de Luiz Sérgio foram vítimas de "equívocos".

Nem uma palavra sobre o dossiê dos gastos do governo Fernando Henrique Cardoso, mas isso se mostrou dispensável, pois o relatório é o próprio dossiê.

À falta de investigação, Luiz Sérgio não se apertou: inocentou os amigos e condenou os inimigos. Tudo sem disfarces nem meias palavras, cambalacho direto na veia. Quem gostou, ótimo, quem não gostou, gostasse.

O deputado Luiz Sérgio é do PT. Não do time de estrelas, que desde o início ficou preservado, mas da equipe reserva escalada para a tarefa de defender o indefensável, como dizia gente da direção do partido quando tudo começou, para explicar o predomínio do baixo clero na CPI dos Cartões.

Os graúdos evitaram se expor, mas não escapam do vexame de ver o PT, um partido que deu vida às comissões parlamentares de inquérito, passar à história no papel de mestre de cerimônia no enterro oficial das CPIs. Pelo menos tal como foram concebidas - instrumentos de fiscalização da minoria - estão mortas.

O governo usa a maioria para manipular de maneira tosca e a oposição, quando não abre mão de suas prerrogativas, copia o adversário na arte do embuste.

Depois de antecipar, e justificar, uma conclusão anódina, os oposicionistas prometem para hoje o pedido de indiciamento da ministra Dilma Rousseff, sem terem conseguido produzir uma só prova contra ela, não obstante as evidências.

"Dilma mentiu", alega a presidente da CPI, senadora Marisa Serrano. Mentiu. E a senadora engana quando finge desconhecer que o depoimento da ministra na Comissão de Infra-Estrutura não tem validade na CPI.

Lobista de casa

Os próximos acontecimentos dirão se a ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil Denise Abreu está certa quando acusa a ministra da Casa Civil de interferir na compra da Varig ou se é Dilma Rousseff quem está correta quando nega a acusação.

Mas do relato de Denise ao Estado resta desde já um ponto inquestionável: entre 2006 e 2007, o governo conviveu impávido com a acusação de que, dos quatro principais diretores da Anac, dois faziam lobby para a TAM e dois eram lobistas da Gol.

Isso no auge da crise aérea, enquanto o Palácio do Planalto assegurava a lisura e a competência da diretoria da Anac. Se, na época, Dilma Rousseff quis tomar alguma providência, não teve respaldo de cima. Se não quis, compactuou.

Apenas na segunda hipótese existe a possibilidade de o presidente Lula não ter tido conhecimento do fato que, no caso, põe em xeque a lealdade de Dilma. Ou não.

Expiatório

Na opinião do corregedor da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, Luiz Paulo Corrêa da Rocha, a "imagem" da instituição foi jogada "na lama" pelo deputado e ex-chefe de polícia Álvaro Lins.

Considerando que 33 dos 70 deputados estaduais do Rio devem contas à lei e que o policial acusado de corrupção chegou agora a uma Assembléia Legislativa que há anos faz má figura junto à opinião pública, de duas uma: ou o corregedor é cândido ou, maroto, tenta fazer os outros de obtusos.

Antes de ser preso na Operação Segurança Pública S.A., Lins já havia sido apontado em 2006 pela Polícia Federal como o cabeça de uma máfia integrada por policiais.

Todo mundo dentro daquela Assembléia sabia perfeitamente de quem se tratava, mas muita gente vai aproveitar o processo de cassação do mandato por quebra de decoro para tratar Álvaro Lins como caso de exceção.

Excluídos os poucos realmente merecedores de ressalvas, quem ali não fez parte da maioria parlamentar durante a década dos Garotinho, participou de governos que abriram a Lins as portas da ascensão quando era apenas um capitão da PM acusado de receber propina dos bicheiros, no início dos anos 90.

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