Entre amigos
Roberto Teixeira, advogado (Foto: ÉPOCA)
Quem denunciou o pagamento de propina a deputados federais para que votassem na Câmara projetos de interesse do governo? Roberto Jefferson, presidente do PTB, então aliado do governo.
E quem forjou um dossiê para tentar impedir que José Serra (PSDB) se elegesse governador de São Paulo? Funcionários aloprados da campanha de Lula à reeleição.
Quem vazou o dossiê sobre despesas sigilosas do governo Fernando Henrique Cardoso confeccionado dentro da Casa Civil da presidência da República? José Aparecido Nunes, que o remeteu a André Fernandes, assessor do senador Álvaro Dias (PSDB-PR).
E quem era mesmo José Aparecido? Era chefe da Secretaria de Controle Interno da Casa Civil, nomeado pelo ex-ministro José Dirceu e mantido no cargo pela ministra Dilma Rousseff, a mãe do Programa de Aceleração do Crescimento – e também do dossiê.
Quem agora acusa Dilma de ter jogado sujo para favorecer o fundo de pensão norte-americano Matlin Patterson na compra da Varig? Denise Abreu, ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), indicada para o cargo por José Dirceu. E além dela, mais dois outros diretores e o ex-presidente da Infraero.
Coube a Dilma emplacar o presidente da Anac, Milton Zuanazzi, um servidor público orgulhoso de ter dito amém a todas as vontades dela. O apagão aéreo desempregou Zuanazzi e Denise.
Esqueci de citar alguma mixórdia notável do período Lula até aqui?
A oposição nada teve a ver com a erupção de qualquer uma delas. De fato, a oposição se empenha em desgastar o governo com as armas que o próprio governo lhe oferece. Mas até para isso falta competência à oposição.
Ela é medrosa. Acaba sendo conivente por já ter produzido mixórdias semelhantes. E teme ser chantageada com a exumação delas. Prefere fingir que se opõe e dar tempo ao governo para que se esgote.
Assim como não cola atribuir à oposição o que somente ao governo deve ser imputado, também não cola o surrado argumento esgrimido a cada novo escândalo de que o governo deve ser perdoado porque se limita a agir como agiram seus antecessores.
Atentai bem, bando de resignados: pouco importa que nada de realmente novo exista sobre a face da terra em matéria de safadeza política e administrativa. Há safadezas? Sejamos contra. Lula se elegeu prometendo combater todo tipo de safadeza. Reelegeu-se apesar de muitas.
A mais recente trouxe de volta ao centro do palco a favorita de Lula à sua sucessão – Dilma. Ela estava de saída dali com escoriações adquiridas ao longo do caso do dossiê sobre despesas exóticas do governo passado.
Em troca da garantia de que não será punido, José Aparecido negou na CPI do Cartão o que ficou rouco de repetir Brasília a fora – que Dilma dera a ordem e que Erenice Guerra, braço direito dela, montara, sim, o dossiê. Pois não é que Dilma continuará sob fogo cruzado – dessa vez disparado por Denise?
Lula ficou de fora do caso do dossiê. Ninguém ousou sugerir que ele soubesse do que se passara a poucos metros do seu gabinete.
O que ameaça jogar Lula dentro do caso da venda suspeita da Varig é a presença do advogado Roberto Teixeira, compadre dele, que o hospedou de graça em um apartamento de São Bernardo do Campo durante oito anos.
Teixeira & Filhas escancararam as mais inexpugnáveis portas do governo para exorcizar as dívidas da Varig e em seguida vendê-la baratinho a quem não podia comprá-la.
Foi uma tremenda lambança, que Denise se dispõe a detalhar, esta semana, no Congresso.
Uma lambança que atropelou três pareceres contrários da Procuradoria da Fazenda Nacional, implicou na substituição de um procurador, desprezou cinco alertas da Anac e ignorou o uso de testas-de-ferro brasileiros pelo fundo de pensão norte-americano.
Comprada por 24 milhões de dólares, a Varig foi vendida 10 meses depois por 275 milhões de dólares à família dona da Gol. Lula fez questão de agradecer pessoalmente à família.