Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, junho 03, 2008

Dora Kramer Sem luva de pelica

O ESTADO DE S PAULO


Quando o presidente do PPS, Roberto Freire, chegou sábado último a Belo Horizonte, deu-se conta de um aspecto ainda não considerado nas avaliações sobre a momentosa aliança entre petistas e tucanos na disputa pela prefeitura da capital mineira.

Para ele, a decisão do Diretório Nacional do PT de vetar oficialmente a aliança, mas aceitar "informalmente" o apoio do governador de Minas, Aécio Neves, é "um ato de extrema arrogância, feito com estudada perfídia para desmoralizar e desqualificar quem o aceita".

No caso, o PSDB em geral e o governador Aécio em particular. Roberto Freire imediatamente pegou no telefone para difundir sua teoria e conferir se alguém compartilhava dela. Conseguiu falar com o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra, que concordou e o tranqüilizou, garantindo que Aécio Neves não aceitaria o acerto sob aquelas condições.

Por intermédio de outras pessoas, porém, Freire ficou sabendo que o governador estava na verdade exultante com o resultado do diretório: 78 votos a favor e apenas 2 contra a decisão de suavizar o veto imposto dias antes pela Executiva Nacional.

"Se for isso mesmo, começo a rever meu conceito sobre o Aécio, porque aceitar um negócio desses é coisa de gente de caráter subalterno. Equivale a reconhecer que o PT tem razão quando diz que o PSDB serve para dar apoio informal, mas não serve para ser seu parceiro oficial. Logo o PT, que faz aliança com todo tipo de rebotalho na política e não vê nada de deformado nisso."

Mais estupefato ainda ficou o presidente do PPS ontem, quando soube que o diretório petista divulgara outra nota oficial para reiterar o veto e qualificar como "capciosas" as versões sobre o aval do partido à informalidade da coligação.

"Quem não quis perceber antes, com esse verdadeiro coice agora deixou de lado as ilusões e percebeu qual era o objetivo do PT: passar a imagem de impoluto que não se junta a gente espúria."

Na opinião de Roberto Freire, o governador, na condição de condutor da articulação, não tem outra saída a não ser manter a candidatura de Márcio Lacerda, do PSB, e exigir a saída do vice do PT da chapa. O assunto seria discutido hoje em Minas entre o PSB, o PSDB e o PPS.

Para Freire, ou Aécio endurece com o PT ou "dará ao eleitorado um sinal de fraqueza e falta de compostura". Quando diz que esse episódio pode levá-lo a "rever" seu conceito a respeito do governador de Minas, o presidente do PPS está se referindo diretamente à eleição presidencial de 2010.

Antigo aliado dos tucanos, Freire, então deputado federal, rompeu com o governo Fernando Henrique Cardoso, apoiou a eleição de Luiz Inácio da Silva, mas, ainda no primeiro mandato, marcou distância do PT.

Menos por causa dos escândalos de corrupção - embora também por causa deles - e mais por discordar radicalmente da política econômica. Como no cenário de celebração geral ao sucesso vê um único crítico ao rumo dado à economia, o governador de São Paulo, José Serra, está com ele para 2010.

Mas pode (ou podia) estar também com Aécio. Ainda outro dia mesmo defendia a união dos dois numa só chapa. Em princípio, preferia Serra na cabeça e Aécio de vice, mas já andou conversando com o mineiro sobre a hipótese de um vice-versa.

E por que, não seria uma chapa estreita?

"Ao contrário. A união dos governadores dos dois maiores colégios eleitorais do País seria ampla o suficiente para fazer frente a duas grandes e perniciosas veleidades que andam por aí."

Na opinião dele, juntos, Serra e Aécio teriam força eleitoral suficiente para enterrar projetos sobre terceiro mandato e arquivar a tese segundo a qual o próximo presidente pode ser tudo, menos paulista, "uma estupidez".

Como essa briga sucessória já começou - "de maneira equivocada, precipitada, mas por iniciativa de Lula" - e Freire considera urgente a entrada nela da oposição, qualquer movimento de fragilidade em relação ao adversário principal, na visão dele compromete futuros oponentes.

E não adianta argumentar com ele que foi assim, informal, a aliança que Aécio e o prefeito Fernando Pimentel combinaram desde o início. Não teriam, portanto, sido pegos de surpresa e estariam atuando conforme a vontade do eleitorado.

"Esse foi o combinado, mas no meio do caminho a soberba do PT procurou dar ao jogo uma outra aparência, transformando Aécio, o principal fiador da aliança, em parceiro de segunda. Indigno de ser visto oficialmente na companhia do PT. Não enxergar isso é adocicar com a boa-fé dos iludidos um ato de má-fé explícita."

Constituição e Justiça

O deputado federal Leonardo Picciani, até o ano passado presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara por indicação do PMDB, fez dobradinha na eleição com o deputado estadual Álvaro Lins. Dividiram, pois, o mesmo caixa 2.

Arquivo do blog