Entrevista:O Estado inteligente

domingo, junho 15, 2008

DORA KRAMER O sonho do bandeirante

Oficialmente, o governador de São Paulo, José Serra, não toca no assunto. Aliás, por enquanto não aborda nenhuma questão que diga respeito à sucessão presidencial. Seus aliados, no entanto, já esquentam os tamborins, preparando-se para defender publicamente uma composição que o agradaria sobremaneira: a chapa tucana Serra presidente e Aécio Neves para vice, em 2010.

Os aliados do governador de Minas Gerais terão todo o direito de contrapropor uma inversão na ordem dos fatores, mas, se o fizerem, será apenas uma maneira não-beligerante de recusar a oferta. Mais do que qualquer outro grupo político, conhecem a chance zero de José Serra vir a abrir mão da cabeça de chapa do PSDB na disputa pela Presidência da República.

Tanto estão cientes dessa firme disposição que Aécio fez um rodopio algo estridente há cerca de dois meses, justamente para garantir espaço na cena nacional e impedir que Serra se consolidasse como candidato quando o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso defendeu uma operação casada: Gilberto Kassab para prefeito, Serra presidente e Geraldo Alckmin governador de São Paulo em 2010.

A união das forças dos governadores dos dois maiores colégios eleitorais do País - responsáveis por cerca de um terço dos votos - já foi tema de várias conversas entre os Palácios dos Bandeirantes e das Mangabeiras, não necessariamente posta de forma objetiva entre seus dois ocupantes.

Por ora é um desejo de Serra que, no curso da campanha municipal, acabará surgindo pela voz de políticos amigos. Na verdade, o plano era só abordar o assunto depois da eleição de outubro, bem como não estava no projeto a defesa explícita da candidatura do governador de São Paulo antes de 2009.

Mas, como o presidente Luiz Inácio da Silva antecipou o processo com o lançamento de Dilma Rousseff, tudo o mais se precipitou. Não por acaso Orestes Quércia saiu falando que levou o PMDB de São Paulo para a candidatura do prefeito Gilberto Kassab porque prefere apoiar Serra em 2010.

Não por coincidência na última sexta-feira o próprio Kassab abordou o assunto pela primeira vez de forma direta, dizendo que gostaria de ver Serra eleito presidente.

A tese da chapa "puro-sangue" Serra-Aécio também já começou a circular entre lideranças do DEM e outro dia foi explicitamente defendida pelo presidente do PPS, Roberto Freire, como a forma mais rápida e definitiva de enterrar conversas sobre terceiro mandato de Lula e de neutralizar campanhas de rejeição a candidatos paulistas.

Mas o melhor mesmo para Serra, a razão de ser da proposta, é acomodar Aécio na fila da próxima vez e evitar uma largada marcada pelos conflitos internos no PSDB. Mas isso ninguém diz assim, sem um pouco de verniz.

Fernando Henrique aposta na tese "pura" desde 2006, quando falava - sem o menor sucesso, diga-se - na hipótese de uma chapa Serra-Alckmin para enfrentar Lula na campanha da reeleição. Será, portanto, agora um defensor da união São Paulo-Minas.

Resta saber que vantagem leva Aécio Neves nessa história. Quem quer vê-lo como vice, claro, enumera várias. A mais recorrente alega que no Senado ele seria apenas "mais um". Pois é, mas na Vice-Presidência - a menos que crie problemas ou se encontre uma configuração nova para lhe garantir destaque e influência - seria um "nenhum" sob a sombra do presidente.

De qualquer maneira, ainda não é um tema ainda passível de decisão. Trata-se de uma tese a ser difundida para conquistar adeptos. Enquanto isso, Serra segue organizando as preliminares nos bastidores.

Esquadrinha as pesquisas para acompanhar as demandas do eleitorado. Os índices mais importantes, para ele, são os indicadores sobre o tipo de relação que o eleitor prefere entre ele e o presidente Luiz Inácio da Silva.

Os indicadores se mantêm os mesmos há meses: a maioria não quer briga. E, por isso, o governador não se atrita com o presidente. Como fará mais à frente para continuar ameno e, ainda assim, marcar a diferença em relação ao atual governo, é algo a ser decidido lá pelo segundo semestre de 2009.

Se já tem um slogan bem bolado, como o "pós-Lula" lançado por Aécio, Serra guarda para si.

Ciente da fama de antipático, José Serra cuida dos números, mas desta vez resolveu também cuidar das pessoas. Por enquanto, políticos. Tem feito reuniões periódicas em São Paulo, Brasília e vários Estados com deputados, senadores e dirigentes partidários, a fim de relaxar os espíritos, exibir a melhor face do governador e, em português claro, mostrar que o diabo não é tão feio quanto pintam.

O assunto nunca é diretamente a sucessão presidencial, embora todos os participantes saibam que estão ali reunidos com um pretendente à conquista de seus apoios.

Da mesma forma, os interlocutores de mensageiros do governador nas articulações de alianças para as eleições municipais País afora sabem que participam mesmo é de preliminares de arranjos futuros.

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