Entrevista:O Estado inteligente

domingo, junho 15, 2008

CELSO MING O bife do chinês

A crise financeira internacional está completando um ano e até agora não há diagnóstico abrangente do que está acontecendo.

Ela eclodiu em junho passado, identificada como o estouro da bolha das hipotecas de alto risco (subprime) nos Estados Unidos. Quando tudo parecia acomodado e a percepção geral era a de que o pior havia passado, eis que o mundo se viu envolvido no choque das commodities, especialmente do petróleo e dos alimentos, que aponta para uma inflação global que há apenas dois anos estava fora dos radares.

Neste fim de semana, as autoridades financeiras do Grupo dos Oito (G-8, grupo dos sete países mais ricos do mundo mais a Rússia), reunidas em Osaka, Japão, advertiram que os altíssimos custos das commodities são um desafio sério para a economia global.

Analistas internacionais se revezam na tentativa de qualificar o que ocorre. A disposição geral é, ainda, ver as coisas segmentadamente. Para eles, a crise das hipotecas e seu desfecho não têm nada a ver com a disparada dos preços das matérias-primas. Daí o aparecimento de tantos diagnósticos parciais e pouco explicativos. A primeira disposição foi ver na escalada dos preços um fenômeno "fora da curva" que teria rápida reversão com a recessão americana. Num quadro de retração da atividade econômica, não poderiam seguir o curso de alta.

Como isso não se confirmou, a tentativa seguinte foi procurar bodes expiatórios. A disparada dos preços foi sendo alternadamente atribuída à ação de especuladores e às políticas equivocadas de estímulo à produção de etanol (especialmente nos Estados Unidos). Até mesmo os bancos centrais passaram a ser acusados de leniência e, assim, de assoprarem novas bolhas, o que não deixa de ter alguma verdade.

É provável que, gradativamente, os analistas acabem percebendo que são manifestações do mesmo fenômeno. Está relacionado com a emergência de novas potências, especialmente na Ásia, e com o novo arranjo político e econômico que está sendo montado para enfrentar a polarização de forças.

Não dá para negar que a enorme liquidez dos mercados, que permitiu o aparecimento da bolha hipotecária americana, tenha a ver com as importações de mercadorias baratas da China. A derrubada dos juros de longo prazo nos últimos quatro anos é conseqüência direta da enorme demanda por títulos públicos vinda com os superávits comerciais e a formação de reservas pela China, Índia, Rússia e até pelo Brasil. E tudo isso, por sua vez, proporciona o enorme crescimento dos emergentes que atirou para o alto os preços dos alimentos e do petróleo.

O maior avanço até agora obtido com a crise foi o know how adquirido pelos bancos centrais para lidar com situações de pânico. A estatização do Northern Rock na Inglaterra e a solução dada ao Bear Stearns nos Estados Unidos passaram o recado de que, em tempo de crise, banco não quebra. E isso acalma corações.

Mas não é tudo. A economia mundial continua enfrentando impasses enormes. A crise é global e as instituições só operam localmente. O chinês aprendeu a reivindicar um bifinho por semana e isso tem enormes conseqüências, para o bem e para o mal.

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