Entrevista:O Estado inteligente

domingo, junho 22, 2008

Dora Kramer É jogo jogado

A reação dos partidos aliados ao governo contra o comportamento do PT na armação das candidaturas para a eleição municipal em todo o País, se não for produto de agudo fingimento é fruto do mais absoluto esquecimento.

O partido age agora como sempre agiu. É coerente com o passado e transparente quanto aos planos futuros, quando apresenta o maior número possível de candidatos próprios, reivindica as melhores posições nas chapas de coalizão e aplica sua política de alianças como melhor lhe convém, adotando em cada município o critério adequado à circunstância específica.

Se a conduta é justa do ponto de vista das conveniências dos parceiros é outro problema. Agora, "acusar" o PT de ter um projeto hegemônico é quase tão ingênuo quanto acreditar quando o partido nega ter veleidades à hegemonia.

Simplesmente porque esta não é uma questão oculta nem a respeito da qual caiba alguma discussão. O PT chegou assim à Presidência da República. Do sectarismo de origem à conquista e ao exercício do poder, ampliou seu arco de alianças para muito além do limite da responsabilidade - não raro da legalidade -, mas nunca abriu mão da primazia.

Às excelências aliadas, todas muito experientes e bem treinadas no ramo, certamente deve ter ocorrido que não seria justamente agora que está no topo, com presidente da República cheio de gás e popularidade, escapando pela tangente da má fama esculpida em escândalos, que o PT dar-se-ia ao desfrute de distribuir favores, perdendo talvez a última grande chance de sua vida.

Os aliados realmente andam a exigir do PT o impossível. E não porque a soberba impressa no DNA impeça o partido de ir contra a própria natureza, mas principalmente porque dificilmente outro no lugar do PT agisse muito diferente.

Sem candidato competitivo para a Presidência da República, os petistas precisam criar raízes na maior quantidade possível de municípios.

Quanto mais a máquina estiver organizada Brasil afora, maior a chance de a eleição "casada" operar o milagre da unção do poste. E, em caso de derrota na Presidência, uma estrutura bem azeitada faz de qualquer partido um pólo de poder indispensável à manutenção do equilíbrio ecológico institucional.

Daí aos cargos, à eleição de boas bancadas no Parlamento e ao alcance de todas aquelas condições mediante as quais o PMDB, por exemplo, sobrevive há anos.

Interessante é que um dos queixosos mais irritados é justamente o PMDB. Reclama que aderiu "au grand complet" a Lula, mas não consegue obter do PT a reciprocidade na forma de apoio a seus candidatos. Achava o quê? Que tinha encontrado o mapa do tesouro, tirado a sorte grande?

Ora, por favor, sabiam com quem estavam lidando. E a recíproca, diga-se, é verdadeira. A cigana não enganou ninguém. No já notório caso de Belo Horizonte Aécio Neves não propôs aliança com candidato do PSDB porque sempre soube do veto do PT e que a informalidade era o atalho disponível.

E as cobranças sobre isonomia de critérios nas alianças, então? Só rivalizam em tolice com a ilusão de que o PT "desobedece" às ordens do presidente Lula quando ele diz uma coisa e o partido faz outra.

O PT não faz só o que Lula diz, mas age necessariamente como ele quer. Uma conta simples: a atual direção do partido foi eleita sob a bênção do presidente para assegurar o controle do partido. Portanto, a convergência permanente é cláusula pétrea do contrato. O melhor para Lula e o partido é o norte, o resto é embromação.

O mesmo conceito se aplica à escolha dos parceiros, ou à decisão de caminhar só em cada município.

É evidente que o PT não pode decidir em Aracaju, Manaus, Porto Velho ou João Pessoa como decide em cidades de importância estratégica para seus planos futuros. Ou é o PT o único partido a traçar projetos ao molde de suas conveniências?

Obviamente as razões de uma aliança em São Paulo não são as mesmas que justificam uma candidatura própria, por exemplo, no Rio, ou vice-versa. Não há relação direta entre causas e efeitos.

Senão, teríamos de acreditar que o PMDB de São Paulo se juntou a José Serra porque o PT da Bahia não quis se unir ao PMDB em Salvador. Cada caso é um caso e isso vale para todos. Uma regra sagrada e sem prazo para expirar. Em 2010 as alianças se organizarão independentemente dos perfis das atuais coalizões.

Se Lula estiver bem, o PT ditará as regras. Se estiver mal, vai reclamar, mas terá de se conformar com a escassez de portos seguros abertos à nação outrora amiga.

Haddad

Certo de que Dilma Rousseff vai mesmo disputar a Presidência, "porque Lula não tem alternativa", um tucano paulista aproveita o ensejo para espetar a fina estampa do ministro da Educação.

"Quem seria o candidato, o Fernando Vaidade?", ironiza o político, confundindo por instantes o interlocutor, cuja memória ainda registra a matéria de fernandos e vaidades como especialidade da escola onde o PSDB é professor.

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