Entrevista:O Estado inteligente

sábado, junho 21, 2008

Dinheiro da CNA pode ter financiado campanha eleitoral

Tem boi na linha

Surgem evidências de que a CNA bancou
a campanha eleitoral da senadora Kátia Abreu


Diego Escosteguy


Kátia Abreu, a nova estrela do Democratas, e a nota da agência para a CNA: 650 000 reais para o marqueteiro da senadora, divididos em parcelas de 300 000 e 350 000

A pecuarista Kátia Abreu, eleita senadora pelo estado do Tocantins nas últimas eleições, ganhou recentemente o apelido de Ivete Sangalo do Congresso, graças ao seu jeito barulhento de fazer política – e se projetou como estrela do Democratas. Kátia Abreu emplacou seu primeiro hit no fim do ano passado, quando ajudou a articular a derrubada da CPMF no Senado. Ela já partiu atrás do segundo: conquistar a presidência da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), entidade que representa os ruralistas, financiada compulsoriamente por 1,7 milhão de produtores agrícolas. A eleição para o cargo será em outubro. A senadora, que é diretora da entidade há três anos, aparece como favorita para comandar um orçamento de 180 milhões de reais. Não se pode dizer que não seja um palco adequado aos seus talentos. Na semana passada, VEJA teve acesso a documentos internos da CNA que apontam fortes evidências de que a entidade bancou ilegalmente despesas da campanha dela ao Senado, nas eleições de 2006. A papelada revela que a CNA pagou 650.000 reais à agência Talento, em agosto de 2006 – na mesma ocasião em que essa empresa prestava serviços de publicidade à campanha de Kátia Abreu ao Senado.

Para justificar os pagamentos, a Talento emitiu duas notas fiscais em nome da CNA: uma de 300.000 reais e outra de 350.000. Nas notas, a agência descreve os serviços como "produção de peças para a campanha de estímulo do voto consciente do produtor rural nas eleições 2006". O problema é que, dentro ou fora da CNA, não há vestígio da tal campanha de "voto consciente". Durante três dias, VEJA pediu à entidade acesso ao trabalho supostamente entregue pela agência. Ninguém achou nada. Diante disso, o presidente da CNA, Fábio Meirelles, afirmou: "Abrimos uma investigação para descobrir por que os pagamentos foram feitos". A entidade promete respostas em duas semanas. O marqueteiro César Carneiro, dono da agência, garante que os serviços foram feitos, mas diz que não guardou cópia de nenhuma peça. Também admite que fez a campanha da senadora – mas tudo na base da amizade: "Ela não me pagou e eu nunca cobrei. Foi um bônus". Kátia Abreu apresentou outra versão: "Quem pagou os serviços da Talento foi a minha campanha ou o comitê do partido no estado". Não foi – pelo menos não oficialmente. A prestação de contas dela e do Democratas à Justiça Eleitoral não mostra despesa alguma com o marqueteiro. Nem doações da CNA, é claro.

A senadora garante que o dinheiro não serviu para bancar a publicidade de sua campanha. Ela diz que, no começo de 2006, o presidente anterior da CNA, Antônio de Salvo, morto no ano passado, encarregou-a de organizar a campanha do "voto consciente". "Era um sonho dele", afirma. "Procurei o César Carneiro porque é meu amigo e conheço a sua competência. Ele topou produzir a campanha." Acrescenta a senadora: "A campanha foi feita, mas não foi veiculada". E por que então a CNA gastou 650.000 reais numa campanha que nunca foi ao ar? "É que, com a morte do antigo presidente, perdeu-se o clima, o interesse", justifica Kátia Abreu, numa explicação que parece história para boi dormir. Irritada com o surgimento da documentação, a Ivete Sangalo do Senado rodou a baiana na CNA. Mandou desligar a rede de computadores da entidade e pediu uma perícia para saber quem vazou os papéis.

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